sexta-feira, 3 de abril de 2020

O LADO BOM DA PESTE

Caminhamos a passos largos para maior crise de toda a história recente da civilização. Será devastadora para o modo de vida tal como atualmente o conhecemos. Por outro lado, além de seus efeitos nefastos e avassaladores, essa pandemia trás consigo aspectos altamente positivos.
Vamos aos fatos: nas praças, os passarinhos voltaram a desfilar felizes na grama ou saltitar nas palmeiras, livres de pedradas e sem ser importunados. O céu, em todo o planeta, está cada vez mais limpo e azul. À noite, as estrelas brilham com mais nitidez. O ar está consideravelmente mais puro. Nos oceanos e rios, os peixes e mamíferos vivem tranqüilos, sem a ameaça das iscas e redes. Na Amazônia, com o silêncio das motosserras, as árvores ainda poderão, por algum tempo, alimentar os animais silvestres, oxigenar e umedecer o ar. Para a natureza, uma benção a disseminação pandêmica desse vírus. Além de salvar o meio ambiente, este bichinho está devastando o seu maior predador e inimigo: o homem.
Se para a Natureza esta peste é a melhor coisa que poderia ter ocorrido, ela pode igualmente ser extremamente útil à humanidade. Vamos listar alguns de seus inúmeros benefícios potenciais.
O primeiro efeito colateral positivo – e de valor imensurável –, é a contenção das guerras e do ódio. A riqueza dos impérios em grande parte originou-se das guerras e opressão dos povos mais indefesos. Colapsando os impérios, esse bichinho imediatamente paralisa todas as guerras e, por um longo tempo, adia as que iriam acontecer. É impossível avaliar o benefício para a humanidade do fim temporário dos conflitos bélicos.
Ao mesmo tempo, em nível mundial, observava-se a proliferação de ódios, preconceitos de toda a ordem, xenofobia, egoísmo e prepotência de umas pessoas em relação às outras, levando a uns agredir os outros gratuitamente e sem sequer ser provocados. Os disseminadores do ódio, ao serem confinados em seus lares, terão de lidar com seus sentimentos tenebrosos. Se antes atiravam o seu lixo emocional na cara dos outros, agora se verão obrigados a olhar-se no espelho, a reciclar as suas emoções, tendo a rara oportunidade de aprender a superar-se e aprimorar-se. O vírus pode torná-los pessoas mais evoluídas, educadas e gentis. Ou, então, se tornarão agressivos com os seus familiares, filhos ou consigo mesmos. A violência doméstica pode aumentar assustadoramente. Os índices de suicídio podem disparar. A primeira metamorfose da violência será o pânico e, daí, algo pior. Se, porém, houver sabedoria, do pânico pode advir a serenidade e a paz.
A segunda dádiva da peste é a possibilidade extraordinária que nos abre para o autoconhecimento. A vida em sociedade, com o seu excesso de informação, consumo desenfreado, agitação, atividades intermináveis amontoou as pessoas nos centros urbanos e, ao mesmo tempo, desconectou os indivíduos de si mesmos. As pessoas se tornaram meras peças de uma engrenagem gigantesca de produção e consumo. O isolamento forçado e a pausa na produção será uma oportunidade áurea de sermos amigos da pessoa mais importante para as nossas vidas – nós mesmos. Temos que aprender a nos amar e nos cuidar.
O terceiro efeito apoteótico desta peste é demolir os alicerces do neoliberalismo - um sistema político fundado no egoísmo, na livre iniciativa, no interesse individual e no culto da propriedade privada. À exemplo do que aconteceu na França, na Alemanha e no Reino Unido, os políticos neoliberais deram um giro completo em suas políticas para gerenciar a crise, com medidas socializantes e estatizantes, seguindo o exemplo bem sucedido da China. O mundo não será mais o mesmo depois desta pandemia. Impérios estarão arruinados. O tabuleiro da geopolítica mundial será enormemente alterado.
Um outro efeito muito positivo desta pandemia – e que praticamente tem passado despercebido, inclusive nos meios médicos – é a necessidade imperiosa de fortalecimento da imunidade. Só se fala em cada um ficar recluso. Isso é necessário, sem dúvida. Porém estar isolado e ocioso é burrice completa. Alguns, de modo desvairado e suicida, estão correndo para a geladeira e comendo descontroladamente. O que precisamos fazer é dedicar o tempo livre ao fortalecimento da saúde, com musculação, exercícios anaeróbicos e jejum intermitente. Banir os alimentos processados e industrializados, preferindo os alimentos crus e orgânicos. Cortar o leite e o glúten da dieta, já que são altamente inflamatórios, e preferir os alimentos anti-inflamatórios, como o limão, acerola, açaí (puro), açafrão, etc. E não esquecer os banhos diários de sol com pouca roupa, sem protetor, por 15 minutos. Se avexe não: esse bichinho, inexoravelmente, vai nos contaminar. Precisamos estar preparados.
E, por fim, o desafio mais difícil imposto pelo coronavírus: aprender a administrar a ansiedade. Indiscutivelmente, o medo da morte é um dos mais terríveis de todos. Se cedermos ao pânico, estaremos a caminho da morte. Escreveu o famoso médico Avicena: “A imaginação é a metade da doença; a tranqüilidade é a metade do remédio; e a paciência é o primeiro passo para a cura”. O que fazer para contornar o medo? Antes de tudo, é preciso entender que o medo da morte é, na verdade, um sentimento deslocado que encobre o medo de viver. Verifique o que está lhe impedindo de viver plenamente. Em seguida, comece a praticar imediatamente meditação. Comece com cinco minutos, e vá aumentando aos pouco o seu tempo até chegar a 45 minutos. Procure desenvolver a atenção plena em todos os momentos de sua vida. Essa é a melhor maneira de vencermos o pânico, adquirir autodomínio e sermos senhores de nossa mente.
Ver essa peste como uma desgraça ou uma benção é uma questão de perspectiva.
José Ramos Coelho

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