quinta-feira, 18 de julho de 2013

OS PECADOS CAPITAIS - a Accidia



OS PECADOS CAPITAIS - a ACCIDIA.

Costuma-se identificar a accidia como constituindo o pecado da preguiça. No entanto, os dois conceitos são diferentes, e num certo sentido diametralmente opostos. O entendimento correto destes termos encerra a chave para a correta compreensão de todos os demais pecados capitais, pois a accidia, dentre todos, é o mais metafísico dos pecados.

Etimologicamente, o termo preguiça deriva do latim pigritia = falta de disposição ou ânimo para cumprir com os próprios deveres e obrigações. O preguiçoso é um estorvo para as pessoas com quem se relaciona, pois estas geralmente têm de realizar as atividades que este deixa de fazer ou o faz parcialmente ou de má vontade.

Já o termo latino accidia, é a tradução do grego a-chedia (sem cuidados), e denota não uma tendência à inação, mas sim um esquecimento de Deus ou – usando uma linguagem não teísta – do eu superior. Esta desconexão deixa o sujeito sem o seu senso interno de orientação, o seu mapa de referência, apartado de sua interioridade e, por isso, perde o rumo, vivendo a vida como um nômade entorpecido, sem saber onde se encontra, de onde vem nem para onde vai. Torna-se, por isso, vítima fácil de pressões ou influências externas.

No caminho da prática meditativa, vemos frequentemente surgirem dois sintomas: ao tentar focar a atenção, o meditante é tomado pelo torpor e adormece; ou então, reage ativando inconscientemente uma carga exagerada de pensamentos e emoções a fim de sabotar o seu intento e desistir. Estes dois sintomas são alguns dos efeitos da accidia.

A accidia remete o sujeito para um ego isolado e relutante em assumir o seu estar-no-mundo. É, na verdade, o pecado fundante da noção de separatividade. Daí porque a “preguiça é a mãe de todos os vícios”.

A filiação da preguiça com a separatividade explica a razão pela qual ela é a mãe de todos os demais pecados:

A Soberba: eu sou melhor do que você.
A Inveja: Não gosto ao vê-lo bem de vida; tomara que você perca tudo o que tem!
A avareza: para ser o mais rico, vou juntar o máximo que puder.
A ira: vou destruir você!
A gula: para dentro do meu estômago tudo o que nele couber.
A Luxúria: vou usar os outros como instrumentos do meu prazer.

Nesta conformidade, percebe-se claramente que o entorpecimento espiritual da acidia pode vir a ser o oposto do que convencionalmente se entende pelo comportamento indolente ou preguiçoso.

Na clínica isso é facilmente perceptível: muitos daqueles trabalhadores compulsivos, que preenchem todos os espaços de sua rotina diária com obrigações e trabalhos os mais diversos são, na verdade, grandes preguiçosos. Por que trabalham tanto? Por que não abrem um espaço para o seu lazer ou o contato consigo mesmos e com os familiares?

A desculpa mais frequente que dão a si mesmos é: “Preciso trabalhar mais para ganhar mais dinheiro e oferecer uma melhor qualidade de vida à minha família”. A avareza serve de justificativa para a preguiça. Ou: “Detesto me sentir um inútil. Preciso fazer alguma coisa”.

O paradoxo desta ilusão é que, quanto mais trabalham e são “produtivos”, mais são tomados por uma incontornável sensação de que algo não vai bem - uma insatisfação profunda vai emergindo e dominando cada vez mais a sua mente. E, ignorando a origem de seu sofrimento, geralmente acreditam que a causa de sua insatisfação reside no fato de não serem ainda, do ponto de vista material, suficientemente “realizados”. Por isso enchem-se ainda mais de atividades e obrigações, impedindo-se de desfrutar do ócio filosófico, da prática espiritual ou da contemplação artística... A diligência pode ser, então, o melhor disfarce da preguiça!

O que isto significa? Que todo comportamento diligente é preguiçoso? De forma alguma. O que este deslocamento radical do conceito de preguiça aponta é que a nossa vida deve ser guiada em sintonia com a nossa missão pessoal – e não em função das exigências do mercado ou dos valores arbitrários impingidos pela sociedade em que estamos.

Viemos aqui para realizar a obra que nos é própria. Morrer e deixar este mundo um pouco melhor do que quando chegamos é missão de todos nós. Mas só podemos saber o que nos cabe de fato fazer se superarmos a barreira da accidia.
Neste sentido, diria que, no fundo, a accidia corresponde ao conceito sânscrito de avidya = ignorância da realidade essencial. Pois é devido à accidia que acreditamos na ilusão de sermos seres separados uns dos outros, vendo nos vícios e pecados o melhor e mais atraente modo de estar-no-mundo.

Esta avidya tem a função de aprisionarmo-nos na ilusão da separatividade, ocultando a verdade essencial de que todos somos um.

(José Ramos Coelho)

OS PECADOS CAPITAIS - a Inveja

OS PECADOS CAPITAIS – a Inveja

Do latim “invidia” = sentimento de desgosto em face do bem alheio, acompanhado do desejo de que esse bem seja destruído. O invejoso não suporta a felicidade alheia, e ambiciona seus gozos e bens, desejando também que o outro não desfrute daquilo que tem. In-video, literalmente, significa: “aquele que não pode ver-te”. E não pode ver porque passa mal. Pois, como disse o poeta Horácio, “O invejoso emagrece com a gordura alheia”.

A maior desgraça para um invejoso é ver alguém feliz. Se você é feliz, esse é o pior castigo para quem o odeia e inveja, porque o outro sofre com o seu bem-estar.

Percebe-se bem a natureza da inveja quando a comparamos com a admiração. Quando contemplamos alguém que admiramos, sentimos bem-estar e grandeza. Frequentemente o tomamos como modelo de vida e esforçamo-nos em ser iguais a ele. Já quando vemos o outro com um olhar de inveja, nos sentimos diminuídos e incomodados, e quase sempre desejamos a sua ruína.

A ostentação de privilégios ou qualidades exacerba e atiça ainda mais a inveja. O invejado se nutre do mal-estar do invejante. O desejo de aquisição dos símbolos sociais de status (carrões, mansões, iates, etc.) são, em grande medida, determinados pela ostentação e o desejo de fazer os outros morrerem de inveja.

Qual a origem da inveja? De um lado, há um sentimento de menos valia que corrói a alma do invejoso. Falta-lhe gratidão e satisfação por aquilo que tem ou aquilo que é. Por outro lado, como se sente interiormente frustrado, revolta-se com os benefícios ou a felicidade alheia. O desejo de despojar, de expropriar o outro daquilo que possui, está na raiz do pecado da inveja. É um pecado solidário e torturante para o próprio pecador.

Frequentemente o invejoso, diante daqueles que querem ouvi-lo, espalha a ideia de que o outro não merece o que tem ou a vida que leva. Dessa atitude se originam a mentira, a traição, a intriga e o oportunismo.

Mas nem sempre a inveja é socialmente danosa e nefasta. Muitas vezes o pecado da inveja se camufla e disfarça através de reivindicações de justiça e igualdade. Desta forma, ocorre uma mutação na sua natureza: ao invés de simplesmente querer a destruição do outro, pleiteia a democratização ou socialização dos privilégios que ambiciosa. Neste sentido, a inveja serve para fortalecer o jogo democrático ao impedir que uns gozem de direitos e outros não.

A origem do pecado da inveja – como a de todos os outros - está na experiência da separatividade: se sou empático em relação ao outro, consigo sentir o que ele sente e alegrar-me com a sua alegria. Mas se o vejo como um outro, a sua alegria pode ser a negação da minha individualidade.

Para o mal da inveja o melhor remédio é a magnanimidade.

(José Ramos Coelho)

OS PECADOS CAPITAIS - a Ira



OS PECADOS CAPITAIS - a Ira.

Ira, do latim ira = cólera, fúria, impulso agressivo contra alguém ou alguma coisa, podendo manifestar-se por meio de palavras cortantes ou atos agressivos. Grande destruidora da harmonia social, a ira frequentemente gera crimes de violência, com todas as suas consequências nefastas. Definida como um ”apetite desordenado de vingança”, é considerada pecado quando atenda contra a razão e a justiça.

Na cosmologia de Empédocles, filósofo grego, todo o universo é regido pela alternância do governo de duas forças: o amor ou a Amizade (Philia e Afrodite) e o ódio ou a discórdia (Neîkos). Quando atua o amor, todas as coisas tendem à unidade e à mistura; com a chegada do ódio, todos os elementos se separam e tornam-se distintos. No nosso mundo, tal como se apresenta, teríamos uma fase de transição onde essas duas forças estariam agindo concomitantemente. Num certo sentido, Sigmund Freud retomou a dualidade empedocleana ao sustentar, em sua última teoria das pulsões, a existência de duas forças atuando no psiquismo: Eros e Tânaros. Este último conceito, tal como o entende Freud, é muito semelhante à concepção do filósofo grego.

Profundamente arraigada nas estruturas mais primitivas do cérebro, a ira é uma das emoções mais poderosas. Uma vez ativada, a ira desencadeia uma descarga de adrenalina e cortisol no organismo, colocando-o num estado de prontidão para a defesa ou o ataque. Um dos seus efeitos imediatos é bloquear a capacidade pensante e tornar a pessoa refém de seus reflexos e impulsos mais primitivos.

Podemos distinguir entre uma ira boa ou virtuosa e uma ira viciosa. A ira virtuosa surge através de uma necessidade de fazer prevalecer a justiça ante a ocorrência de uma injustiça ou violência, geradora de indignação. É justificável nos casos de legítima defesa, quando a própria vida ou mesmo a de terceiros está em perigo, ou nos casos de “guerra legítima”, quando se tenta preservar a própria vida ou a própria liberdade frente aos desmandos e a violência de um invasor espúrio. A indignação torna-se o motor de uma revolta, fornecendo a energia necessária para se reagir contra ameaças, abusos ou violências cometidas. Visa a suprimir o mal perpetrado e a restabelecer a justiça e a equidade.

Já a ira viciosa se dá quando alguém adota a estratégia de ser violento a fim de impor a sua vontade e os seus desígnios, sem que o outro tenha dado qualquer motivo para tanto. Usando de violência, ameaças ou intimidação, tenta dobrar à força a vontade alheia.

Este comportamento violento acende nos outros a fogueira da ira, ocasionando um incêndio infindável de destruição que se retroalimenta, oscilando entre a violência e a vingança, geradora de mais violência.

O que gera, em nossos dias, o comportamento agressivo dominado pela ira? As razões mais frequentes são, de um lado, uma formação onde impera a injustiça, a arbitrariedade ou a violência, ou, de outro, a existência de pais negligentes e ausentes. A ausência parental pode causar uma intensificação da ansiedade que muitas vezes tem o efeito de ativar impulsos raivosos e destrutivos. Quando explode, o raivoso sente um alívio ao liberar a sua tensão interna através de gestos ou palavras. Contudo, este seu comportamento explosivo fica gravado em suas células e, toda a vez que sentir-se ansioso, ver-se-á impelido a explodir novamente para livrar-se de suas tensões e conflitos.

Esta emoção primitiva torna-se muito perigosa quando se mescla a justificações racionais ou a ideologias políticas ou religiosas que visam a fundamentá-la ou justificá-la. Desta forma, a ira se infiltra nos pensamentos e na concepção de mundo da pessoa, podendo exercer sobre ela um controle absoluto, dominando-lhe os sentimentos, os pensamentos e as ações.

Paradoxalmente, porém, o que mais frequentemente nos irrita e atiça a nossa reprovação é ver os outros adotando os comportamentos que realizamos ou desejamos inconscientemente fazer e condenamos ou reprimimos em nós mesmos. A visão no outro daquilo que, em nós, achamos inaceitável e inadmissível, pode desencadear – especialmente naqueles que não percebem a natureza deste processo de projeção da própria sombra no outro - um poderoso impulso de negação e destruição.

A propósito, o termo jihad, traduzido frequentemente como “guerra santa”, na verdade quer dizer “vencer a si mesmo”, “domar o fogo interior”. Antes de condenar, acusar ou agredir alguém, devemos parar e pensar: será que eu não faço a mesma coisa que condeno no outro? A compreensão dos mecanismos projetivos é um poderoso antídoto contra a ira.

Um remédio eficaz contra a ira é o autocontrole, que repõe a mente num clima de serenidade, onde o sujeito decide livre da coação de paixões primitivas e desenfreadas.

(José Ramos Coelho)

OS PECADOS CAPITAIS - a Gula

OS PECADOS CAPITAIS – a Gula

Do latim gula = garganta, goela, paladar e, daí, gula. 

A gula é o prazer desmedido em comer e beber, que avilta o homem por assemelhá-lo ao animal. A gula escraviza o espírito e prejudica a saúde do corpo.

O pecado da gula se torna claro quando contextualizado no campo das relações sociais. Numa família, por exemplo, o irmão guloso tende a tomar para si e abocanhar uma quantidade maior do que aquela que, em justiça, lhe caberia. O guloso não pensa nos demais, movendo-se unicamente pelos ditames imperativos de seus próprios impulsos.

O excesso que adoece o guloso poderia salvar a vida de um faminto. Enquanto uns se empanturram, muitos morrem de fome. É uma afronta à ética.

Por outro lado, a maior fonte de sofrimento e de ansiedade do guloso decorre da pressão social sobre ele exercida em função de padrões estéticos coercitivos: o aumento de peso corporal amiúde corrói a sua autoestima, tornando-o alvo de reprovação, críticas e bullying.

Nas últimas décadas, devido à ditadura da beleza, estão se disseminando duas patologias preocupantes, especialmente entre os adolescentes: a bulimia (gula seguida de vômito) e a anorexia (abstinência pelo pavor de engordar). O guloso, de fato, pode morrer pela boca.

O que motiva a gula? O guloso é movido de um lado por uma carência afetiva e, de outro, pela ansiedade. Guiado por instintos arcaicos, acumula mais alimentos do que precisa na suposição inconsciente de que, caso venha a passar fome, já dispor de uma boa reserva de nutrientes.

Mas basicamente a gula rege-se por uma carência de ordem afetiva. Com efeito, desde o útero o infante aprende a associar a afetividade com a alimentação. Esta relação perpetua-se após o nascimento no processo de amamentação, quando a mãe, enquanto dá o seio ao bebê, lhe transmite também amor e aconchego. Assim, ao crescer, o guloso frequentemente reativa esta associação: quando está carente, come para receber amor. A gula é um deslocamento (metonímia) do todo (o convívio amoroso) para a parte (o alimento degustado).

A tragédia do guloso é que, quanto mais come para livrar-se de sua carência e ansiedade, mais se sente desamparado (por ser alvo de rejeição social e zombarias) e ansioso (em função da culpa e arrependimento por ter se excedido) – o que, por sua vez, lhe suscita ainda mais fome... A perpetuação deste processo retroalimentado pode descambar para uma obesidade mórbida.

As tradições espirituais de todos os povos adotam como antídoto à gula a prática regular de jejuns. O jejum faz bem ao corpo (propicia um descanso ao aparelho digestivo) e à alma (é um exercício de liberdade frente à gula).

O ritual de jejuar limpa o corpo e a mente de todos os entulhos que embaçam a sua lucidez, inserindo o ato de comer numa dimensão santificada e transformando a mesa num altar.

O remédio contra a gula é a sobriedade. Santificar os alimentos é comer de forma frugal e compartilhada. Isso desenvolve a fraternidade e a generosidade. Desta forma, o comer reintegra-se à sua amorosidade original, transformando-se num ritual de integração social.

O antigo nome do banquete = convivium¸ convivência, estar com os demais convivas, viver ao lado de outros, alude a um aspecto essencial do comer enquanto rito de integração. Este compartilhar contribui para eliminar a carência de onde se origina a gula. O alimento deve ser, sempre que possível, compartilhado.

(José Ramos Coelho)

OS PECADOS CAPITAIS - a Luxúria



OS PECADOS CAPITAIS - a Luxúria.

Luxúria, do latim luxuria = excesso, volúpia, devassidão. É o pecado que leva o homem a tornar-se escravo do próprio corpo, usando-o para satisfação de apetites desenfreados, tal como o fazem os animais, não se guiando pela consciência, vontade ou escolha racional, mas pelos ditames dos apetites e instintos.

A tradição cristã, oriunda de Paulo, acentua a oposição entre a carne (sarx) e o Espírito (pneuma), à qual corresponde não a contraposição entre o corpo e o Espírito - como comumente se crê -, mas entre a vida e a morte: a carne é corruptível, perecível, mortal, enquanto o espírito é vida imortal.

“Rm, 8, 6: “A inclinação da carne é a morte; mas a inclinação do Espírito é vida e a paz.”

É este corpo corruptível e de apetites exacerbados que induz o homem à luxúria, ativando tendências muito primitivas e poderosas.

O imperador Ciro, algum tempo após a tomada de Sardes, capital da Lídia, ao saber que os habitantes desta cidade haviam se rebelado contra o seu domínio, poderia ter dominado a sublevação à força, reprimindo os revoltosos. Ao invés disso, resolveu optar por um procedimento astucioso e que se mostrou extraordinariamente bem sucedido: criou casas de prostituição, tavernas e jogos públicos, emitindo uma ordem que obrigava a todos os cidadãos a se entregarem a esses vícios.

Conta-nos La Boétie: “Ficou tão satisfeito com esse tipo de guarnição que depois não precisou mais puxar da espada contra os Lídios. Essa gente miserável divertiu-se inventando todo tipo de jogo, de tal modo que os latinos formaram uma palavra com seu próprio nome, através da qual designavam o que chamamos passatempo e que eles nomeavam Ludi, corruptela de Lidi.” (Discurso sobre a Servidão Voluntária)

A luxúria move toda uma indústria de passatempos, lazer, turismo, casas de show, cassinos, propaganda, filmes, jogos... Enfim: é um dos alicerces de nossas sociedades. O sexo - objeto da luxúria; o dinheiro – objeto da avareza; e o poder, objeto da soberba são os três pilares de nossas sociedades contemporâneas. O que era considerado pecado hoje em dia é signo de excelência.

A parcela de virtude da luxúria está em permitir ao indivíduo o usufruto de prazeres. O seu pecado consiste na exacerbação das inclinações animais a ponto de comprometer a autonomia e a capacidade racional de escolha.

O que motiva o comportamento devasso? O pecado da luxúria é fruto de uma educação negligente ou abusiva: o luxurioso sofreu abandono ou assédio. Dentro dele, há uma criança ferida ou abandonada. A busca desenfreada pelo prazer tem por função trazer lenitivo para as feridas da alma e aliviar o sentimento de solidão.

O paradoxo desta inclinação desmedida consiste na tendência, frequente no luxurioso, de usar ou abusar dos outros para a satisfação de sua devassidão – o que tem o efeito retroativo de machucar ainda mais as feridas interiores.

O remédio para a criança ferida ou abandonada não é o excesso de prazeres, mas o amor sincero e o respeito que restitui a dignidade e a integridade ao sujeito, justamente o que falta na luxúria.

(José Ramos Coelho)

sábado, 13 de julho de 2013

OS PECADOS CAPITAIS: a Avareza.

Avareza:

Avareza, do latim avaritia = cobiça, avidez, ambição exacerbada por dinheiro ou, num sentido mais amplo, por qualquer bem em geral.

Para o avarento, o acúmulo de bens significa poder, aumento de ser. A tendência a acumular vai se tornando cada vez mais obsessiva e, de meio para a obtenção de bens, se converte num fim em si mesma: o avaro se torna cativo de sua própria obsessão.

O paradoxal é que ao longo deste processo, o gozo do bem em si mesmo vai se tornando supérfluo, e o acúmulo em si mesmo se torna essencial. 

A consequência disso é que o avarento, querendo ser invejado e admirado pelas suas posses, perde a capacidade de estabelecer relações humanas autênticas e espontâneas.  Se o índice de qualidade de sua vida rege-se pelo acúmulo de dinheiro, o avaro não pode deixar de pensar nos milhões que deixa de ganhar enquanto “perde tempo” na companhia de um filho, um amigo ou companheiro.  
Isso o exaspera e o torna uma pessoa árida, seca e solitária.

A sua desconfiança nas relações humanas é reforçada pelo seu temor de que os outros possam se apossar ou cobiçar o que ele tem – e aí ele se tranca e realimenta o seu isolamento ainda mais.

Como a única coisa que para ele importa é acumular cada vez mais, as outras pessoas convertem-se facilmente em instrumentos ou meios para ampliar ainda mais a sua retenção. 

Isto via de regra conduz o avaro a comportamentos injustos, ingratos ou desonestos, pois ele desloca o amor pelas pessoas ao apego a coisas.  Não titubeia em ludibriar os outros ou mesmo espoliá-los se através disso possa vir a acumular mais para si.

Refém renhido de sua obsessão, além de afastar os outros do usufruto de seus bens, evita até ele mesmo dispor daquilo que com tanto empenho acumula – a necessidade de acumular se sobrepõe ao usufruto da coisa acumulada.  A necessidade de acúmulo perde todo o seu sentido social, ou melhor, torna-se algo completamente anti-social.

Exemplos de avareza:
Acumular dinheiro.
Colecionar objetos.
Poupar afetos.
Acumular conhecimentos, etc.

E o que gera esta necessidade de reter, colecionar, acumular? A motivação é o temor de recair numa situação de penúria e miséria vivida no passado ou que possa vir a sofrê-la no futuro. Mas esse mecanismo de proteção se torna tão forte e autônomo que, mesmo quando se tenha juntado o suficiente, o que se acumulou nunca é o bastante.

“A quem não basta pouco, nada basta” (Epicuro).

O aspecto virtuoso da avareza é proteger o indivíduo de uma situação de penúria real ou imaginária; o pecado da avareza é excluir os demais e ao próprio avaro daquilo que acumula. 

A tragédia do avaro é que, nessa busca insaciável por riqueza, sente-se cada vez mais insatisfeito, solitário e miserável.

O remédio contra a avidez é a generosidade. Dar o que se tem restitui aos bens a sua utilidade social, inserindo o doador numa corrente de interações afetivas que lhe engrandecem e preenchem a alma.

O compartilhamento de ideias, bens, sentimentos e afetos é uma das mais intensas e gratificantes experiências que a vida pode nos oferecer.  


 (José Ramos Coelho)

sexta-feira, 12 de julho de 2013

OS PECADOS CAPITAIS - a Soberba

OS PECADOS CAPITAIS: a Soberba.

Do latim superbiam: “altura do que está superior a alguma outra coisa”.

O pecado da soberba não consiste em possuir qualidades notáveis ou admiráveis, mas sim em propagar e jogar na cara dos outros a ideia de que se é melhor do que eles. Seu equívoco não consiste em ser excelente em alguma coisa, mas sim em desprezar os demais e sentir-se superior.

A virtude da soberba está em querer aperfeiçoar-se e ultrapassar-se. O seu pecado é menosprezar e humilhar os demais.

A soberba é, no fundo, um mecanismo de defesa frente à dificuldade de estabelecer vínculos espontâneos, sinceros e profundos.

O maior temor do soberbo é cair no ridículo. Seu maior inimigo é o riso: pois ele é carente de alegria.

Exemplos de soberba:

Sou mais rico do que você.
Sou mais inteligente.
Sou mais belo, mais elegante.
Sou mais bem sucedido.
Venho de uma família melhor.
Sou mais competente do que você.
Sou mais generoso.
Sou mais espiritualizado.
Sou mais virtuoso.

Aquele que é excelente, não fala. Quem fala que é excelente, não é.

O remédio para a soberba é a humildade.

(Ramos)

terça-feira, 2 de julho de 2013

ACERCA DO MAL-ESTAR DIFUSO QUE MOTIVA AS PASSEATAS

Há um descontentamento difuso e certo mal-estar em relação à atual situação do Brasil.

Mas a realidade... é que, do ponto de vista dos mais necessitados, ela nunca esteve tão boa! Duvida? Então leia esta pesquisa da FGV, publicada no ano passado, demonstrando que a desigualdade social no Brasil nunca diminuiu tanto quanto agora. Ou seja: o país está se tornando menos desigual e mais justo.

E o que explica a atual insatisfação e a onda de protestos? É curioso: mas quem começou a se mobilizar e a protestar foi a classe média, e não os mais injustiçados. Claro! Estes seriam recebidos a bala.

O mesmo ocorreu com os movimentos de protesto conhecidos como a “contracultura” nos EUA – a geração beat e os hippies. Os jovens que se organizaram para contestar o status quo e o sistema vigente nos anos 50 e 60 eram oriundos da classe média, ou seja, pertencentes aos segmentos que gozavam das benesses do estado de bem-estar social. Quando a pessoa começa a viver bem, ela quer sempre mais. Assim é a natureza humana.


Trocando em miúdos: as origens da insatisfação atual não decorrem propriamente de questões econômicas, mas de um planejamento equivocado das cidades, de uma crise de credibilidade em relação à democracia representativa e de uma inanição espiritual.

"A TRAGICOMÉDIA DA MEDICALIZAÇÃO" está na Estante Virtual

Amigos,

"A TRAGICOMÉDIA DA MEDICALIZAÇÃO: a psiquiatria e a morte do sujeito", graças ao empenho do meu amigo Jomar Morais, está à venda na Estante Virtual. 

Há dois anos que estamos tentando - sem sucesso - furar o bloqueio das grandes livrarias com o objetivo de mostrar os nossos trabalhos. Elas só aceitam livros com tiragens de milhares de exemplares e, além disso, ficam com mais de 50% do valor de venda... 

Através desta parceria com a Estante Virtual, a situação vai mudar. O livro estará à disposição do grande público. Uma grande vitória para nós!

Se quiser saber do que trata este livro, veja os posts mais abaixo.


E boa leitura!

sábado, 29 de junho de 2013

RECEITA DA MARIANA CARVALHO PARA SE TER SAÚDE

"Qualquer amor, já é um pouquinho de saúde" (Guimarães Rosa). 

E QUALQUER FELICIANO, JÁ É UM POUQUINHO DE DOENÇA!!!!