sexta-feira, 22 de maio de 2020

A FALÊNCIA DO HOMO SAPIENS E A MORTE DA CULTURA


Uma mentira sozinha é apenas uma mentira. Uma mentira compartilhada é uma verdade coletiva (Filosofia das Fake News).
Um dos equívocos mais longevos e duradouros da história - oriundo de uma tradição que remonta a Sócrates, Platão e Aristóteles - consiste na definição do homem como um animal racional (bios logoin).
Esse erro milenar alcançou a sua consagração máxima na filosofia cartesiana com a tese do “cogito, ergo sum”: penso, logo existo. Definindo o homem como uma “coisa pensante”, Descartes eleva a razão à categoria de essência humana, propondo ainda a matematização do saber e os fundamentos do paradigma científico em vigor desde o início da modernidade.
Essa tese da racionalidade humana começou a ser combatida com vigor pelo filósofo Schopenhauer, sendo retomada a seguir por Nietzsche e aprofundada pelo pai da psicanálise, S. Freud e muitos outros. Para Schopenhauer, a razão é tão somente um instrumento usado pelos humanos na luta pela sobrevivência. O motor do agir humano reside, segundo ele, não na razão, mas sim na vontade. Pouco mais tarde, Freud dirá algo semelhante ao formular a sua teoria das pulsões, especialmente a pulsão de vida.
Em sendo verdade o homem não ser propriamente um animal racional, o que ele é afinal? Um animal simbólico, afirma Ernest Cassirer, numa profunda e abrangente definição que engloba tanto o aspecto da racionalidade propriamente dita, operacionalizada através da linguagem e da lógica, quando o pensamento mítico, mágico e religioso, que é viabilizado pelo uso de símbolos.
Após a psicanálise desvendar a dinâmica do psiquismo e a comprovação pelo comportamentalismo de quão moldáveis e influenciáveis os animais e os humanos são, iniciou-se experimentos de modelagem do comportamento humano e de controle de consciências. O extraordinário sucesso da propaganda política pelo nazismo e sua transposição para a propaganda comercial e a venda de produtos, transformou os indivíduos em massa de manobra, ávidos e fervorosos adeptos de uma nova servidão voluntária. O servo pós-moderno é explorado no trabalho e no lazer, servidão que é tanto mais eficiente quanto é completamente ignorada.
O iluminismo, representante mais ilustre da modernidade, porém, conduziu a humanidade a uma encruzilhada perigosa, na qual se constata a falência e ruína de seus princípios, valores e propósitos. A sociedade racional e científica transformou o homem numa mera peça de uma engrenagem monstruosa. O criador foi devorado pela criatura que ele mesmo criou. Se antes a técnica era um instrumento de quem a utilizava, hoje o homem é um servo da técnica, quer queira ou não.
A situação chegou a um ponto tal que a impressão generalizada que se tem é a de estarmos regredindo à Idade Média, com a volta das pestes, o conflito entre os religiosos e os cientistas, o terraplanismo, os preconceitos e fanatismos mais arraigados, etc.
Na verdade, estamos diante do embate entre dois fundamentalismos – e cada um deles tem as suas vulnerabilidades. Vejamos quais são elas.
O fundamentalismo religioso está avançando no sentido de reapropriar-se do poder político do Estado e seus aparelhos, do qual fora banido a partir das teses de Maquiavel, da burguesia liberal e dos iluministas.
É dogmático e combate a ciência. Para alcançar seus objetivos, recorre a todos os expedientes, especialmente às fake news. Arregimenta aliados no estamento político e tenta impor os seus propósitos ao conjunto da sociedade, manipulando a consciência de seus fiéis através de uma organização extremamente eficiente e do uso de hipnose coletiva.
Aqueles que surfam associados a ele disseminam informações do tipo: “A terra é plana”. “Ingerir detergente mata o coronavírus”. “O coronavírus é uma gripezinha”. Essas afirmações absurdas não são percebidas como tais em virtude da perda de referenciais confiáveis. Vivemos numa espécie de neoprotagorismo, onde a verdade é o que se afigura a cada um, de acordo com o seu ponto de vista. O indivíduo é que sabe a medida do que é verdadeiro ou não.
Ora, com a disseminação de fake news produziu-se uma síndrome generalizada de distorção perceptiva da realidade a partir da manipulação de consciências através de algoritmos obtidos pela venda de dados de perfis pessoais. Hoje quem pensa é na verdade pensado, quem escolhe é na verdade conduzido a escolher a partir das informações manipuladas que recebe pelas redes sociais e que orientam as suas escolhas. A vida digital que estamos vivendo é a prova mais cabal de que os humanos não são seres racionais. É inútil tentar demover alguém pertencente a esse grupo de suas crenças. Não é apenas a repetição de uma mentira que pode fazê-la parecer uma verdade. Uma mentira sozinha é apenas uma mentira. Uma mentira compartilhada é uma realidade coletiva. Vivendo em “bolhas”, esses grupos criam as suas verdades e fazem delas o sentido de suas vidas. O poder avassalador desta crença é tão intenso que pode induzir alguém à tirar a própria vida, como as trinta pessoas que vieram a óbito ao ingerir detergente para lutar contra o coronavírus.
No extremo oposto, temos o fundamentalismo da racionalidade: cientistas, políticos, técnicos, pensadores que combatem essas fake news com base em argumentos científicos e racionais. E porque dizemos que essa perspectiva é um fundamentalismo? Porque, como as fake news, atua como um vírus, reformatando a cultura e a tradição.
O vírus da racionalidade é extremamente perigoso. Ele não é propriamente um organismo biológico, mas um software – um conjunto de instruções, informações e procedimentos interligados, formando uma totalidade articulada em torno de um objetivo.
Ao espalhar-se pelos diversos estratos sociais, enfraquece as tradições, dissemina a dúvida e o poder corrosivo da crítica. Ao longo da história, esse programa criou a linguagem escrita e o dinheiro, a partir dos quais a civilização tornou-se possível. A linguagem e o dinheiro viabilizaram o surgimento da técnica e da ciência, tal qual a conhecemos. Como resultado de tudo isso temos um planeta onde os últimos recursos naturais estão sendo devastados, a biodiversidade dizimada, os rios, mares e ares poluídos, uma civilização que busca o crescimento a todo o custo em detrimento da saúde da Terra, e uma humanidade onde uma ínfima minoria detém o monopólio da riqueza e uma imensa maioria vive na miséria. A hipertrofia da ciência e da técnica provocou uma atrofia de valores e de ética, uma insensibilização dos afetos, a ponto de assistirmos a tudo isso sem qualquer indignação ou revolta.
Dir-se-ia, no entanto, que nada disso tem a ver com a racionalidade e a ciência. O avião é um invento neutro, nem bom nem mau. Se usado para aproximar as pessoas, tornar-se-ia benéfico. Se empregado para lançar bombas, um veículo da morte. Mas as coisas não são simples assim. A visão que uma pessoa adota da realidade se altera caso ela caminhe a pé, a cavalo, de carro ou avião. O meio muda a mensagem. O caminho afeta o caminhar e o andarilho.
A invenção da escrita alterou os afetos e as relações sociais, produzindo o pensador solitário e independente. A criação da moto-serra ampliou infinitamente a devastação da flora. As indústrias empestaram o ambiente com resíduos e poluentes.
Somos uma civilização de seres narcísicos, solitários, ansiosos, depressivos, individualistas e adoradores do sucesso e da aquisição de bens materiais. A vida moderna embruteceu os indivíduos, atrofiou a solidariedade e a compaixão pelas diversas formas de vida e os outros seres.
Temos assim dois grupos de fundamentalistas, cada um dos quais se julgando o detentor da verdade.
Essa perda da capacidade homeostática da cultura, na qual os fundamentalistas religiosos usam até o nome do Cristo para disseminar o ódio e os preconceitos mais insanos, e os cientistas põem todo o seu gênio criativo a serviço da criação de uma tecnologia altamente predatória e nefasta ao meio ambiente, é uma eloqüente expressão da morte da cultura.
A pandemia do coronavírus veio para explicitar a falência de valores do homo sapiens, e a necessidade urgente da adoção de uma nova filosofia de vida e visão de mundo, onde a humanidade abandone o papel de câncer letal e metastático do planeta, e rume em direção a uma pós-cultura onde imperem a solidariedade e a empatia entre os humanos. E as leis da economia estejam subordinadas aos princípios vitais da ecologia.
O que estamos vivendo resulta da destruição dos mais remotos ambientes naturais do planeta, onde os vírus habitam. Se deixarmos os vírus em paz, respeitando a Natureza, as plantas e os animais, a humanidade pode reencontrar o caminho da sobrevivência.
Caso a devastação continue, certamente será extinta pelos próximos vírus.
José Ramos Coelho – 05 de maio de 2020.

MORO, O HERÓI DA GLOBO

Moro, o herói da Globo,
TRAIU a Constituição enquanto era juiz, conforme fartamente comprovou a Vaza-Jato do Intercept;
TRAIU o Brasil ao associar-se ao Departamento de Justiça dos EUA e destruir a infra-estrutura e as grandes empresas nacionais, levando ao desemprego milhoes de trabalhadores;
TRAIU o Bolsonaro enquanto Ministro da Justiça, após ajudá-lo a eleger-se ao afastar o Lula da disputa e esfaqueando o Presidente pelas costas, assim que pediu demissao;
E, finalmente, TRAIU a Deputada Carla Zambelli, sua sobrinha de casamento, ao divulgar conversas particulares entre os dois.
E, diante dessas traições em série, você acredita que ele é ainda um herói?
Desculpe: só sendo um globopata.

A ÉTICA DO VÍRUS


Qual é a responsabilidade ética do coronavírus - um bichinho nanométrico, invisível, que nem sequer é tido pelos biólogos como um ser vivo?
Não estou a fazer piada ou brincar com vocês, queridos leitores. Coloco essa pergunta em função do surgimento, nos EUA, de processos bilionários exigindo reparação aos chineses pela disseminação do covid-19.
É evidente que o comportamento de um vírus está fora das categorias do que é ético ou não. Para que esses processos possam ter algum sentido e não caiam no ridículo, seria preciso nacionalizar o vírus - chamá-lo de “chinês” - e provar que foi fabricado em algum laboratório de biotecnologia da China.
Pois bem: digamos, contrariando o que dizem os cientistas respeitáveis de todo o mundo, que essa hipótese esdrúxula fosse verdadeira. Então seria preciso explicar porque os chineses, ao fabricarem essa criatura, iriam soltá-la em seu próprio território a fim de exterminar os próprios chineses. Um acidente involuntário?
Segundo ponto. Mesmo que essa narrativa fantasiosa prosperasse, os chineses poderiam argumentar: “Certo. Eu pago se antes vocês indenizarem a humanidade pela morte de um quarto da população mundial em função da gripe espanhola” (que, apesar do nome, surgiu nos EUA).
Veremos em breve o surgimento de uma disputa jurídica planetária, no contexto de uma guerra comercial entre os EUA e a China, visando a hegemonia global?
Acho bastante plausível, nesses tempos estranhos e insólitos.
A verdade é que esse novo vírus mata indistintamente a todos - velhos ou jovens, brancos ou pretos, ricos ou pobres, orientais ou ocidentais. Se há algum sentido nessa força cega da natureza que devasta a humanidade, é explicitar as doenças e mazelas da civilização, especialmente o abismo profundo entre ricos e pobres, e o impacto devastador da presença humana no planeta.
Talvez esse segundo fato explique porque o vírus surgiu num país com a densidade demográfica da China e numa região tão tecnologicamente avançada como Wuhan.
José Ramos Coelho – 26/04/20

OS EMISSÁRIOS DO CAOS


O mundo caminha para uma encruzilhada. Analisando a partir do que se passa no Brasil, a escolha de uma figura como a de Bolsonaro para Presidente da nação encerra em si um sentido aparente e outro oculto. Há muito tempo, quando ainda deputado, profetizou: a situação só vai melhorar com a morte de pelo menos umas 30.000 pessoas... Sua militância em prol da liberação e venda de armas, as ameaças de metralhar os opositores, o discurso de ódio, preconceito e desprezo pela democracia, o meio ambiente e os direitos humanos – tudo converge para um cenário apocalíptico de destruição, extermínio e luto.
Não há dúvida que o mundo atual está seriamente enfermo. Caracterizei esse fenômeno como a “morte da cultura”, ou seja, os valores que guiam o comportamento das pessoas e deveriam ser a sua bússola norteadora, perderam a sua eficácia e função de propiciar o bem-estar e o equilíbrio ao sistema. Ocorre exatamente o contrario: a visão de mundo dominante está levando a humanidade ao precipício.
Já vimos isso ocorrer, de forma exemplar, com a ascensão de Hitler ao poder na Alemanha e o desastre global que se seguiu. Não é por acaso que, tanto na forma como no conteúdo, haja em vários pontos uma sintonia entre o discurso do Presidente do Brasil com o dos nazistas: ambos, embora apelassem para o militarismo, a ordem e o autoritarismo, no fundo eram movidos pelo fascínio do caos – ou instrumentos inconscientes da entropia.
A propagação mundial do coronavírus acelerou esse processo destrutivo e está desnudando muitas coisas a respeito da fragilidade da estrutura estabelecida. Como algo tão minúsculo, que nem é considerado um organismo vivo, pode subjugar aquele que se considerava o centro e senhor da criação?
A pandemia demonstra claramente a tese que há anos defendemos: a cultura, a fonte de imunidade da humanidade, está enferma. Ela perdeu a capacidade de nos proteger e regular a sociedade enquanto totalidade orgânica. Os valores vigentes estão lançando uns indivíduos contra os outros, uma nação contra as demais. E, nesse ambiente dividido e conflituoso, o vírus vem como um tsunami para levar a conflagração ao seu desfecho final.
Diante da pandemia, as nações, cada uma à sua maneira, tentam adotar medidas para conter o avanço do vírus. Todos os presidentes negacionistas, como Trump e Boris Jonhson, voltaram atrás - este último, lamentavelmente, jaz numa UTI em estado grave após ter minimizado o perigo que se alastrava. O governo brasileiro, em todo o planeta, é o único que continua desdenhando da gravidade e deliberadamente sabota as iniciativas que visam a controlar a dispersão da doença. Incentiva continuamente as pessoas a saírem de suas casas, e, ao mesmo tempo, protela as medidas de ajuda financeira que permitiriam aos mais vulneráveis manterem a quarentena. Age como um parceiro do vírus, como o seu facilitador institucional.
Nesse sentido, ele não está sozinho. Todos os que nele votaram, consciente ou inconscientemente, são enamorados da pulsão de morte, sentem o fascínio do caos. A opção pelo ódio é, no fundo, uma expressão distorcida e alterada do medo e pressentimento da autodestruição. Só odeia aquele que se sente ameaçado. Quem ama não teme. É solidário, tranqüilo, conciliador.
Como o Brasil, em poucos anos, de um próspero país emergente, o mais otimista em relação ao futuro, o lugar para onde os jovens da Europa se dirigiam em busca de emprego e uma renda melhor, se transformou nessa terra devastada, onde cada um procura se salvar como puder?
De um lado temos o Lula, um pacifista, generoso, conciliador e progressista. Do outro Bolsonaro, belicoso, cruel, criador interminável de dissensões e crises.
Não há dúvida de que o vírus no Brasil encontrou um grande parceiro e facilitador. A classe médica brasileira, a qual em peso elegeu Bolsonaro, já sabe disso. Desesperadamente defende as determinações da OMS e os preceitos da ciência. Faltou antevisão aos doutores que extinguiram o programa "mais médicos"..
Eu não sei se seus apoiadores já perceberam isso ou não. Mas o empilhamento dos cadáveres que ocorrerá em breve e o medo da morte que inevitavelmente se seguirá, fará sem dúvida cair a ficha dos últimos renitentes.
De fato, é do torvelinho do liquidificador que surge uma nova mistura. É do caos que nasce uma nova ordem. Será melhor ou pior? Vai depender da opção pela solidariedade e o cuidado consigo e com o próximo, ou pelo egoísmo sem fundo e a cobiça inesgotável pelo lucro.
José Ramos Coelho – 10/04/2020.

A GLANDE TEM MUCOSA?


É amplamente disseminado que o coronavirus penetra no organismo humano pela mucosa da boca, nariz e dos olhos.
Mas imagine a cena: você, homem, vai a um supermercado, toca em corrimãos, carrinhos de compras, manuseia produtos e, na saída, sente uma súbita vontade de urinar. Abre a porta do sanitário, vai ao mictório, baixa o zíper, pega no pênis (epa!), urina segurando-o (epa!) e, ao concluir, o balança ou espreme (epa!), veste-se e vai embora.
Pergunta de leigo intrometido: o coronavirus não pode penetrar no organismo pela mucosa da glande? Por que há mais homens infectados do que mulheres? E por que muitos sofrem de diarreia como um dos sintomas?
São dúvidas ociosas de um filósofo em quarentena😌
José Ramos Coelho - 08/04/2020

sexta-feira, 3 de abril de 2020

A REDE DO MEDO E A CAPTURA DOS INGÊNUOS

Em toda a longa e sombria Idade Média, a estratégia da hierarquia católica para controlar a humanidade consistiu na elevação do medo à categoria de virtude. Virtuoso era o temente a Deus. O temor do fogo dos infernos possibilitava a subjugação e o apascentamento do rebanho dócil dos incautos. Aos rebelados, o suplício em vida nas chamas da fogueira.
Estamos vendo, sob inúmeros aspectos, um retorno apocalíptico ao mundo medieval: a crença no terraplanismo e o desprezo e perseguição aos cientistas; a cooptação do poder político pelo neopentecostalismo e islamismo; o retorno cíclico de pestes terríveis e devastadoras; e uma reciclagem do medo enquanto estratégia de domínio de corpos e mentes.
Com o destronamento da Igreja e a sua substituição pelo Deus Mercado, novamente o medo volta a ser instrumentalizado para atender a poderosos e ocultos interesses comerciais e políticos.
Aterrorizadas, dia após dia, bilhões de pessoas irmanadas participam online do ritual macabro e diário da contagem dos novos mortos. O aumento exponencial do contágio. O avanço inexorável do vírus em todas as direções.
O medo da própria morte – ou das pessoas amadas – vem associado ao lamento: ainda não temos vacina contra esse vírus, mas ela sairá em breve...
Aí é que reside a armadilha - a rede que, ao ser aberta através do pânico generalizado, atrairá os peixinhos incautos para o arrastão.
Perguntinha inocente: porque o Bill Gates migrou da extremamente lucrativa informática, da inteligência artificial para atividades “filantrópicas” ligadas à produção de vacinas?
Sabemos que a nanotecnologia está avançando a passos céleres. E circulam rumores, entre os mais bem informados, de que as próximas vacinas poderão conter dentro de si micro chips através dos quais as pessoas poderão ser monitoradas e terem suas vidas devassadas.
O olho que tudo vê, a onisciência que tudo sabe, estará oculto num invisível micro chip?
Teoria da conspiração? Pesadelo? Ficção científica? As novas vacinas podem se converter em neo algemas hi-tech de controle de corpos e mentes?
Há um cheiro fétido no ar... Quem sobreviver, saberá.
José Ramos Coelho - 03/04/2020

VOCÊ PODE ESCOLHER ENTRE O IOR E O MELHOR


O CORONAVÍRUS E A MORTE DA CULTURA

“Existimos. A que será que se destina?” Nascer, crescer, reproduzir e morrer – esse processo natural da vida só se realiza caso o indivíduo desfrute de uma boa saúde. E o que é a saúde?

Podemos defini-la como a capacidade de manter-se em homeostase de forma autônoma e auto-suficiente. Esta capacidade se recicla e consolida através de situações que a põem à prova. Por exemplo: uma criança criada num ambiente de perfeita assepsia possui um sistema imune extremamente debilitado e vulnerável, pois ele só produz anticorpos na presença de agentes patogênicos que o ameaçam. Um atleta só desenvolve sua performance em treinos que testam os seus limites de força e resistência e o faz superá-los.

De modo semelhante ao ocorrido com o indivíduo, a cultura é também um grande sistema homeostático cuja função é fornecer um suporte simbólico para orientá-lo e dar um sentido à sua existência. A cultura é o que une e integra a sociedade numa totalidade única e auto-regulada.

Conforme teorizamos em “A Morte da Cultura”, ocorreram rupturas ao longo da história humana, as quais conduziram a humanidade a viver numa sociedade que se alimenta da insatisfação e da exploração de seus membros. Essas rupturas produzem um malestar difuso desagregador e desestabilizador do sistema. Vejamos alguns exemplos ilustrativos dessa tese:

- Um jogo virtual, o Baleia Azul, induziu milhares de jovens ao suicídio. Qual a razão de alguém ser atraído a se mutilar ou privar-se de sua própria vida?

- Os pais, no afã de sucesso profissional e “qualidade de vida”, ausentam-se da família e dos filhos, os quais, sentindo-se abandonados, perdem a vontade de viver;

- 30% das mortes ocorridas nos hospitais são decorrentes do próprio tratamento médico (iatrogenia) - o que mostra que a medicina não está a serviço da saúde das pessoas, mas do lucro das indústrias farmacêuticas.

- Enquanto de um lado as indústrias alimentícias adoecem as pessoas, produzindo alimentos processados, açucarados, repletos de aditivos e conservantes, de outro as indústrias farmacêuticas tratam os doentes com medicamentos que não curam e produzem efeitos colaterais, levando-os à dependência e complicações. As primeiras adoecem os indivíduos e as segundas os tratam. Não surpreende que essas duas indústrias tenham vindo a se fundir numa só, visando a maximização dos seus lucros

- Todos os países, dominados seja por governos de direita ou de esquerda, sonham em aumentar o PIB – Produto Interno Bruto. Mas o PIB é apenas a soma aritmética das transações entre humanos. No seu cálculo, não se leva em conta a devastação ambiental que está na base da economia. Assim, embora tenha efeitos catastróficos sobre o PIB, a pandemia de coronavírus também contribui para aumentá-lo, já que as pessoas se verão compelidas a adquirir remédios, vacinas, gastar com médicos, psiquiatras, psicólogos, funerária... Tudo isso é computado como “criação de riqueza”. Ou seja, o PIB é mais um indicador de autodestruição do que de progresso real.

- A eleição do neo nazista Bolsonero, viabilizada pela operação Lava-Jato - que destruiu a infra-estrutura nacional e criminalizou a política - e o impedimento da candidatura de Lula, descumprindo determinação da ONU, teve por símbolo uma arminha, expressão eloqüente de uma elite que odeia o povo e o despreza;

- Nazistas saem às ruas comemorando a pandemia de coronavírus na Alemanha.

Todos esses eventos, embora bem distintos entre si, são expressões claras de rupturas e conflitos. Para entendê-los numa perspectiva mais ampla, convém ter em mente que tudo o que se afirma pela negação do outro cria, pela própria natureza da negação, um desequilíbrio que só terá solução de continuidade pela negação da primeira afirmação e o restabelecimento da harmonia original.

Assim, por exemplo, uma sociedade que se afirma pela destruição do meio ambiente encontrará sustentabilidade pela cessação de sua atividade predatória. O nazismo, sonhando com o III Reich e o domínio imperial do mundo - pregando o extermínio dos gays, ciganos, comunistas e judeus - atraiu contra si uma coalizão de países na Segunda Guerra que o levaram à completa ruína. Pais que priorizam a aquisição de dinheiro em detrimento da convivência com a família gerarão filhos infelizes e (auto)destrutivos. Uma medicina que se coloca a serviço do capital e não da saúde das pessoas se condena ao descrédito e se torna um instrumento da erosão do sistema.

A insatisfação difusa e o malestar da cultura encontram na necropolítica a sua expressão mais acabada e precisa: ela é o escoadouro e corolário das rupturas e contradições existentes no seio da própria sociedade e, ao mesmo tempo, um mecanismo auto-regulatório catastrófico do sistema.

A necropolítica produz, pela sua própria lógica interna, a erosão e morte da cultura.

Nesse contexto conturbado e conflituoso, a pandemia de coronavírus acelerou vertiginosamente esse processo de destruição do sistema e destituiu a necropolítica de suas pretensões apocalípticas. A similaridade da atividade do vírus com os necropolíticos explica a simpatia existente entre eles. A necropolítica foi vencida pela micronecrose.

Estamos às portas do advento de uma pós-cultura.

José Ramos Coelho - 30/03/2020

A PANDEMIA, PASTEUR E BÉCHAMP.



Os filósofos são dados a especulações. Esse é o seu ofício. Assim, enquanto filósofo, permitam-me tecer algumas reflexões sobre as causas primeiras da atual pandemia. Talvez elas sejam vãs. Ou, caso encontre um espírito aberto e suscetível que as acate, talvez enseje uma mudança de visão de mundo, hábitos e comportamentos.
Como pode um bichinho tão minúsculo estar devastando a humanidade de ponta a ponta? Como é possível que um ser tão insignificante colapse as mais poderosas economias, paralise a devastação humana sobre a Natureza, desafie a mais sofisticada tecnologia e ponha em xeque o aparato científico?
Antes de tudo, o que é um vírus?
São seres extremamente pequeninos, cem vezes menores do que uma célula. Nem sequer são considerados seres vivos pela maioria dos biólogos, pois não tem metabolismo, não comem e nem excretam. Só se reproduzem penetrando no corpo de um hospedeiro. Os vírus, os fungos e as bactérias são considerados a causa de todas as doenças que acometem os humanos.
A propósito, no século XIX, ocorreu uma grande polêmica envolvendo dois cientistas: Pasteur e Béchamp. O primeiro, usando o microscópio, descobriu a existência dos germes e sustentou que eles eram a causa de todas as doenças. Béchamp, por sua vez, discordava dessa teoria. Afirmava que a causa das doenças não residia propriamente na ação dos germes, mas sim no terreno biológico. A doença ocorre se o organismo estiver desequilibrado. Um germe não prospera num terreno biológico são.
Assim, por exemplo, A., exposto ao Covid-19, pode não apresentar qualquer sintoma, não sentir nenhum malestar, enquanto B. adoecer gravemente e morrer. Se o vírus é o mesmo, porque ambos não foram contagiados? A resposta é que o campo biológico de A. estava sadio e repeliu o germe, enquanto o de B estava frágil e veio a óbito.
Infelizmente, prevaleceu na medicina a visão de Pasteur. Daí só se falar em vacinas e remédios para combater a pandemia - e muito poucos ensinam como fortalecer o sistema imunológico e aumentar a saúde. Embora falha, a perspectiva de Pasteur foi adotada pela medicina, uma vez que sustenta toda a cadeia produtiva das indústrias químicas e farmacêuticas que lucram com o adoecimento das populações.
Por que ocorrem as pestes? Quais as suas causas geradoras?
Em primeiro lugar, as grandes cidades são estruturas gigantescas e anti-naturais, permitindo a aglomeração de enorme contingente de pessoas em pequenos espaços. O ajuntamento excessivo em áreas reduzidas provoca estresse, conflitos e é o ambiente mais propício para a propagação de uma peste. A intensidade do contágio é proporcional ao adensamento de pessoas em espaços reduzidos.
Em segundo lugar, ao afastar-se do ambiente rural e do contato com a Natureza, os humanos passaram a fugir do sol, a usar protetores solares, películas anti-raios nos veículos e, assim, tornaram-se carentes de vitamina D, o hormônio mais poderoso e que controla grande parte do sistema imune. Se alguém segue à risca o lema de “ficar em casa” e não toma sol, corre o sério risco de ficar mais vulnerável ao vírus.
Em terceiro, a história da alimentação mostra o quanto nos últimos séculos - e, particularmente, nas últimas décadas – os humanos passaram a ingerir alimentos artificiais, processados, açucarados, refinados, repletos de corantes, acidulantes, conservantes, aditivos de todo o tipo, enfim, uma alimentação antinatural debilitante do organismo, predispondo-o às doenças degenerativas e autoimunes, as quais estão se tornando, ao lado do câncer, uma praga em nossa civilização.
Em quarto lugar, as monoculturas de espécimes vegetais em amplos espaços causam enorme desequilíbrio no ecossistema, daí resultando o surgimento de pragas, as quais exigem o uso de agrotóxicos cada vez mais agressivos e danosos para controlá-las. Esses venenos contaminam os animais, os córregos, os rios e oceanos e chegam à mesa dos consumidores, envenenando-os e poluindo o seu organismo, predispondo-os ao câncer e inúmeras outras doenças.
Nas últimas décadas, com a criação dos alimentos transgênicos, a situação se agravou, pois eles não apenas causam câncer como também acabam alterando e contaminando os vegetais não transgênicos pela polinização.e exigindo maior quantidade de venenos.
Em quinto lugar, o uso indiscriminado e exagerado de antibióticos produziu super bactérias, imunes a qualquer tratamento. Um usuário de corticóides ou antibióticos torna-se vulnerável a qualquer germe que o ataque, pois o antibiótico, além de matar o germe causador de uma determinada doença, destrói a biota intestinal de quem o ingere, deprimindo-lhe o sistema imune e predispondo-o a novas infecções. Ao mesmo tempo, a criação intensiva de milhões de animais, em espaços reduzidos e em condições deploráveis, exige a administração de contínuas doses de antibióticos, os quais, igualmente, tendem a produzir novas bactérias e vírus mais resistentes, os quais podem passar dos animais aos seus criadores.
Por fim, a gigantesca máquina de produção-e-consumo que o capitalismo produziu, após a revolução industrial, está dilapidando os ecossistemas naturais, extinguindo irreversivelmente a biodiversidade, poluindo os mares e os ares, causando o efeito estufa – o qual está ocasionando o degelo das calotas polares, tufões, e uma série de catástrofes naturais, abrindo o caminho para o surgimento de novos vírus que podem ser ainda mais devastadores para a humanidade.
Em suma, voltamos ao problema inicial, ou seja, à teoria do campo biológico de Béchamp.
A questão que se coloca é: não seria o coronavírus um emissário do Cosmos, um mensageiro a nos trazer o precioso ensinamento de que a vida que levamos é insustentável e completamente desequilibrada? Que os humanos precisam reformular completamente a sua economia, seus conceitos e comportamentos em busca de uma vida mais frugal, minimalista e natural?
O coronavírus talvez seja o coveiro da velha cultura, a peste da peste civilizacional, e o facilitador do advento de uma pós-cultura.
José Ramos Coelho

O LADO BOM DA PESTE

Caminhamos a passos largos para maior crise de toda a história recente da civilização. Será devastadora para o modo de vida tal como atualmente o conhecemos. Por outro lado, além de seus efeitos nefastos e avassaladores, essa pandemia trás consigo aspectos altamente positivos.
Vamos aos fatos: nas praças, os passarinhos voltaram a desfilar felizes na grama ou saltitar nas palmeiras, livres de pedradas e sem ser importunados. O céu, em todo o planeta, está cada vez mais limpo e azul. À noite, as estrelas brilham com mais nitidez. O ar está consideravelmente mais puro. Nos oceanos e rios, os peixes e mamíferos vivem tranqüilos, sem a ameaça das iscas e redes. Na Amazônia, com o silêncio das motosserras, as árvores ainda poderão, por algum tempo, alimentar os animais silvestres, oxigenar e umedecer o ar. Para a natureza, uma benção a disseminação pandêmica desse vírus. Além de salvar o meio ambiente, este bichinho está devastando o seu maior predador e inimigo: o homem.
Se para a Natureza esta peste é a melhor coisa que poderia ter ocorrido, ela pode igualmente ser extremamente útil à humanidade. Vamos listar alguns de seus inúmeros benefícios potenciais.
O primeiro efeito colateral positivo – e de valor imensurável –, é a contenção das guerras e do ódio. A riqueza dos impérios em grande parte originou-se das guerras e opressão dos povos mais indefesos. Colapsando os impérios, esse bichinho imediatamente paralisa todas as guerras e, por um longo tempo, adia as que iriam acontecer. É impossível avaliar o benefício para a humanidade do fim temporário dos conflitos bélicos.
Ao mesmo tempo, em nível mundial, observava-se a proliferação de ódios, preconceitos de toda a ordem, xenofobia, egoísmo e prepotência de umas pessoas em relação às outras, levando a uns agredir os outros gratuitamente e sem sequer ser provocados. Os disseminadores do ódio, ao serem confinados em seus lares, terão de lidar com seus sentimentos tenebrosos. Se antes atiravam o seu lixo emocional na cara dos outros, agora se verão obrigados a olhar-se no espelho, a reciclar as suas emoções, tendo a rara oportunidade de aprender a superar-se e aprimorar-se. O vírus pode torná-los pessoas mais evoluídas, educadas e gentis. Ou, então, se tornarão agressivos com os seus familiares, filhos ou consigo mesmos. A violência doméstica pode aumentar assustadoramente. Os índices de suicídio podem disparar. A primeira metamorfose da violência será o pânico e, daí, algo pior. Se, porém, houver sabedoria, do pânico pode advir a serenidade e a paz.
A segunda dádiva da peste é a possibilidade extraordinária que nos abre para o autoconhecimento. A vida em sociedade, com o seu excesso de informação, consumo desenfreado, agitação, atividades intermináveis amontoou as pessoas nos centros urbanos e, ao mesmo tempo, desconectou os indivíduos de si mesmos. As pessoas se tornaram meras peças de uma engrenagem gigantesca de produção e consumo. O isolamento forçado e a pausa na produção será uma oportunidade áurea de sermos amigos da pessoa mais importante para as nossas vidas – nós mesmos. Temos que aprender a nos amar e nos cuidar.
O terceiro efeito apoteótico desta peste é demolir os alicerces do neoliberalismo - um sistema político fundado no egoísmo, na livre iniciativa, no interesse individual e no culto da propriedade privada. À exemplo do que aconteceu na França, na Alemanha e no Reino Unido, os políticos neoliberais deram um giro completo em suas políticas para gerenciar a crise, com medidas socializantes e estatizantes, seguindo o exemplo bem sucedido da China. O mundo não será mais o mesmo depois desta pandemia. Impérios estarão arruinados. O tabuleiro da geopolítica mundial será enormemente alterado.
Um outro efeito muito positivo desta pandemia – e que praticamente tem passado despercebido, inclusive nos meios médicos – é a necessidade imperiosa de fortalecimento da imunidade. Só se fala em cada um ficar recluso. Isso é necessário, sem dúvida. Porém estar isolado e ocioso é burrice completa. Alguns, de modo desvairado e suicida, estão correndo para a geladeira e comendo descontroladamente. O que precisamos fazer é dedicar o tempo livre ao fortalecimento da saúde, com musculação, exercícios anaeróbicos e jejum intermitente. Banir os alimentos processados e industrializados, preferindo os alimentos crus e orgânicos. Cortar o leite e o glúten da dieta, já que são altamente inflamatórios, e preferir os alimentos anti-inflamatórios, como o limão, acerola, açaí (puro), açafrão, etc. E não esquecer os banhos diários de sol com pouca roupa, sem protetor, por 15 minutos. Se avexe não: esse bichinho, inexoravelmente, vai nos contaminar. Precisamos estar preparados.
E, por fim, o desafio mais difícil imposto pelo coronavírus: aprender a administrar a ansiedade. Indiscutivelmente, o medo da morte é um dos mais terríveis de todos. Se cedermos ao pânico, estaremos a caminho da morte. Escreveu o famoso médico Avicena: “A imaginação é a metade da doença; a tranqüilidade é a metade do remédio; e a paciência é o primeiro passo para a cura”. O que fazer para contornar o medo? Antes de tudo, é preciso entender que o medo da morte é, na verdade, um sentimento deslocado que encobre o medo de viver. Verifique o que está lhe impedindo de viver plenamente. Em seguida, comece a praticar imediatamente meditação. Comece com cinco minutos, e vá aumentando aos pouco o seu tempo até chegar a 45 minutos. Procure desenvolver a atenção plena em todos os momentos de sua vida. Essa é a melhor maneira de vencermos o pânico, adquirir autodomínio e sermos senhores de nossa mente.
Ver essa peste como uma desgraça ou uma benção é uma questão de perspectiva.
José Ramos Coelho

A PESTE E O PÃNICO



A PESTE E O PÂNICO
Queridos e queridas,
Além de todos os cuidados que devemos ter em relação ao contágio e fortalecimento do sistema imunológico, gostaria de abordar aqui a questão de como preservar a sanidade mental nesses dias difíceis que estão por vir.
Primeiro: em todos os lugares, só se fala de uma coisa: a pandemia. Acredito que já temos informações suficientes acerca de como evitar e se proteger permanecendo em casa recolhido.
Entretanto, quanto mais focamos no problema, mais ele se agiganta e se torna ameaçador. Então a primeira medida é voltar os olhos não para o problema, mas sim para as soluções. Ao invés de lamentar o quanto no passado fomos negligentes com a saúde, refletir naquilo que agora podemos fazer para fortalecê-la. Ao invés de se auto-recriminar pelos erros ou omissões pregressas, arrepender-se, perdoar-se genuinamente e, de forma suave, exercitar a sutil da arte da gentileza para consigo e para com o próximo.
Segundo: o nosso maior aliado para lidar com a solidão neste momento, as redes sociais, pode se converter em nosso pior inimigo. Ficar batendo na mesma tecla ininterruptamente - vírus, vírus, vírus... - causa saturação e, logo depois, enlouquecimento. Portanto, urge sermos austeros e restringir o seu uso ao estritamente necessário, como conversar com os familiares e/ou outras providências básicas e imprescindíveis. E ocupar o tempo com atividades que nos fortaleçam – como e exercícios físicos, meditação, jardinagem, brincar com os filhos e o cachorro, trabalhar, aprender um instrumento musical, fazer artesanato, ajudar o próximo, retomar aquele projeto por tanto tempo postergado, etc.
Terceiro: encarar o recolhimento em casa como uma dádiva e não um castigo. Estivemos por demasiado tempo imersos numa vida frenética e maluca, correndo de um lado para o outro, viciados em estímulos e tarefas, tudo em grande parte para fugirmos de nós mesmos, evitando nos olharmos face a face. Chegou o momento de fazermos um balanço de nossa existência, daquilo que realizamos, aproveitando essa pausa forçada para ampliar o autoconhecimento e mudar aquilo que precisa ser mudado. Sou quem gostaria de ser? O que falta na minha vida para eu me sentir completo e realizado? O que posso fazer agora para alcançar os meus sonhos e objetivos? Agindo assim, o peso da parada involuntária transmutar-se-á em graça merecida.
Quarto: adote alguma prática espiritual. Pratique-a com regularidade e dedicação. Acredita em Orixás, Jesus, Buda, Alláh, Krishna? Escolha um dia e horário fixos ao longo da semana e invoque o seu Deus, embebendo-se de sua energia. Aproveite esse momento de recolhimento para aprender a ser menos egoísta. Não peça proteção para si ou para os seus: seu Deus conhece as suas verdadeiras e autênticas necessidades. Coloque-se a Seu serviço. Aprenda a virtude da humildade e, assim, adquirirá o merecimento de suas bênçãos.
A repetição regular deste culto pessoal criará uma egrégora ao seu redor, uma aura de proteção, atraindo para as nossas vidas boas energias, anjos, guardiões e mentores invisíveis, todos prontos para nos iluminar e guiar os nossos passos.
Agindo assim, seguindo essas pequenas dicas, atrairemos a paz e a serenidade e conseguiremos atravessar as águas turbulentas do pânico e do desespero.
Bom retiro!
José Ramos Coelho

AS ÁRVORES E O CORONAVÍRUS

AS ÁRVORES E O CORONAVÍRUS
🌷
Afaste-se dos homens e aproxime-se das plantas. Elas não lhe ameaçarão.
🍁
Ao invés do medo da morte, cultive a vida. Plante diariamente uma árvore em prol de um amanhã mais promissor.
☘️
Drible o estresse com um banho de natureza. Esses amigos silenciosos e sábios lhe ensinarão a entrar em contemplação e estado meditativo, mudando seu padrão mental.
🍃
Está sem dinheiro ou desempregado? Plante um vegetal. Logo ele lhe fornecerá alimento, frutos, beleza e companhia – para você ou as próximas gerações.
🍂
Troque a depressão e os pensamentos negativos pela esperança de um mundo melhor, tendo consciência de que, ao plantar uma árvore, você está contribuindo para debelar o efeito estufa, melhorar o clima, ajudar a flora e a fauna e ser um instrumento das forças da vida.
🥀
Aprenda a apreciar e conversar com as plantas. Perceberá que elas tem vida e sensibilidade, trazendo equilíbrio energético e harmonia para a sua vida.
🌷🌱🌳
José Ramos Coelho

PARA QUEM DESEJA FAZER A TRAVESSIA DA PANDEMIA EM SEGURANÇA

Toda crise encerra em si as melhores oportunidades para a superação de um decrépito estado de coisas e o surgimento do novo. Esta cepa de coronavírus veio cobrar de nós a fatura de nossa negligência, erros, vícios, insensatez e insensibilidade. Para o bem ou para o mal, a crise que alguns países estão vivendo e aquela que nós viveremos, a partir da próxima semana, será a maior de que se tem notícia.
Diante dela, temos duas alternativas: o pânico, a doença e a morte - ou uma reformulação de nossos valores, hábitos e atitudes, o cuidado consigo e com o outro, a solidariedade e o amor. A escolha é de cada um.
Para aqueles que optarem pela segunda alternativa, segue abaixo algumas dicas que podem ser bastante úteis.
Primeiro: Permaneça em casa.. Restrinja ao mínimo possível o contato com as pessoas. O que não significa ficar ocioso: brinque com os seus filhos, cuide de um pet, faça jardinagem. O melhor antídoto para o medo da morte é aproximar-se das fontes da vida (crianças, animais, plantas).
Segundo: se tiver que sair, faça assepsia constante de suas mãos e, ao chegar, deixe o sapato do lado de fora da casa, seguindo o sábio costume nipônico. Mantenha a distância de pelo menos um metro dos demais a fim de evitar o contágio via gotículas de ar.
Terceiro: fortaleça o seu sistema imune. Se o vírus entrar em seu corpo e você estiver sadio, ele não o afetará – embora você possa transmiti-lo para outras pessoas. Há inúmeras formas de fortalecê-lo. Elas envolvem o cuidado com o corpo e a mente.
A forma mais eficaz de fortalecer o corpo é através de exercícios físicos – musculação, atividades anaeróbicas e, especialmente, exercícios de pranayama para o fortalecimento dos pulmões, o alvo preferencial do vírus na sua fase mais aguda. Uma alimentação antiinflamatória é igualmente importante: evitar o consumo de glúten, leite e derivados, alimentos industrializados e processados, e preferir alimentos crus e frescos, limão com água e açafrão, suco de açaí puro com acerola (sem açúcar), própolis, etc.
O fortalecimento da mente pode ser obtido pela prática diária da medicação e da atenção plena. Pode-se começar praticando 5 minutos até alcançar o ideal de 45 minutos diários. O que mais fragiliza a imunidade é o estresse contínuo, e não há nada melhor para combatê-lo do que a prática regular da meditação.
Finalmente, o recolhimento temporário no lar não deve impedir os banhos diários de sol por pelo menos 15 minutos, com pouca roupa. Quem não puder tomar sol deve ingerir bastante água e 5.000 UI diários da chamada vitamina D3, que na verdade é o hormônio mais poderoso do corpo humano e controla boa parte do sistema imunológico. Quem estiver com 50 a 70 nos seus níveis sanguíneos de vitamina D3 estará otimamente preparado para enfrentar o vírus.
Quarto: estabeleça um limite ao uso pessoal das redes sociais. Usar por longos períodos o celular e o computador prejudica a visão, o corpo e a saúde. Faça pausas e dedique-se a outros afazeres. Quer se informar do que acontece no mundo? Enquanto o celular lhe abarrota de informações, exercite-se, cuide da casa, esteja ativo. A restrição do contato social pode provocar uma explosão de viciados em internet, e cabe a você se auto-impor um limite nessa dependência, antes que seja tarde.
Quinto: procure falar diariamente com as pessoas que lhe são caras. A tecnologia nesse momento pode nos ser muito útil e evitar contágios. Você não sabe como será o dia de amanhã. Fale dos seus sentimentos e procure deixar as mágoas e rusgas para trás.
Sexto: Evite estocar em demasia para si mantimentos e víveres. Os povos paleolíticos só conseguiram sobreviver ajudando-se uns aos outros. Quem era bem sucedido na caçada tratava de dividir a presa com os demais. Pois se, no outro dia, voltasse de mãos vazias, poderia ver sua generosidade retribuída pelos outros. Só sobreviveremos satisfatoriamente ao que virá se formos solidários e nos ajudarmos uns aos outros. Portanto, aproveite essa reclusão para refletir de que forma poderá ser útil a um vizinho, amigo ou à comunidade em geral. Pense nos mais necessitados e nos enfermos. E decida qual será a sua contribuição pessoal nesse momento tão dramático e difícil.
Sétimo: evite a automedicação e os medicamentos que ainda não estão cientificamente aprovados. Eles, ao invés de ajudar, podem causar mais danos que o próprio vírus.
Oitavo: alimente pensamentos positivos e amorosos. Se nos abrirmos para o próximo e exercitarmos o amor e a solidariedade nesta travessia, quando chegarmos ao outro lado e tudo estiver superado, estaremos melhores e mais inteiros - e todos poderão voltar a celebrar a vida novamente, com a consciência do dever cumprido e com muitas histórias para contar.
Aproveitemos esta reclusão para pensarmos acerca de nosso papel e missão nesta existência. Bom proveito!
José Ramos Coelho

QUAL DOENÇA QUE ACOMETE O BRASIL?

O Brasil está vivendo um processo de autofagia. Tudo começou com os protestos populares de 2013, incentivados e amplificados pelos meios hegemônicos de comunicação visando desestabilizar os governos populares, com o apoio sub-reptício de potências estrangeiras, à espreita de nossas riquezas.
A Lava Jato, investindo estrategicamente contra as grandes empresas nacionais e a Petrobrás, em conluio com os EUA, liquidou com a infraestrutura produtiva nacional. Usando o método da justiça seletiva, perseguiu corruptos e inocentes com o objetivo de assumir o poder, criminalizando a política e viabilizando o golpe de estado que destituiu a Dilma e impediu Lula de voltar ao poder, sob os aplausos de uma turba acéfala que pregava a volta da ditadura. Pois só os tolos gostam de ser tutelados. Pessoas conscientes são donas de seu próprio destino e nutrem ojeriza à servidão voluntária.
Com isso, um conluio espúrio de instituições formado pelos poderes judiciário, legislativo, executivo e a grande mídia corporativa, tramando contra a vontade democrática do povo, elegeu um governo neofascista que, rapidamente, iniciou o desmonte de estado e de todas as conquistas sociais. As instituições, sustentadas pelo dinheiro da nação, ao invés de servir ao povo, voltou-se contra ele.
Enquanto diz seguir o lema “o Brasil acima de tudo”, Bolsonaro investe contra a Amazônia, os índios, o meio ambiente, os desfavorecidos, a educação, a cultura, os quirombolas, ou seja, ataca o Brasil profundo, ajoelhando-se diante dos ditames imperiais dos EUA.
A cisão e luta do Brasil das elites contra o Brasil popular guarda uma notável simetria com os mecanismos de uma doença autoimune, onde o sistema imunitário, por um erro de percepção, passa a eleger como inimigos partes do corpo que deveria proteger, dando início a um processo autodestrutivo.
Da mesma forma que há o “avesso, do avesso, do avesso. do avesso”, verifica-se aqui múltiplas simetrias, onde o macro (o Brasil) se reflete no micro (nas pessoas), e a doença nacional, como numa metástase, contagia e se alastra, infiltrando-se nos indivíduos.
Os mais suscetíveis são os mais politizados e empáticos, os quais, ao indignarem-se contra a demolição da nação, são acometidos de um estresse crônico - um dos maiores desencadeadores de uma doença autoimune.
O contágio fica tanto mais fácil quanto a figura paterna tiver sido, na história do indivíduo, fonte de conflito ou revolta. Assim, os traumas ligados ao pai facilmente podem ser transferidos para a figura de um governante repudiado, criando-se então um perigoso elo projetivo. Quanto mais forte o elo, mais intenso o sofrimento e o conflito. Pois “nós não apenas nos amamos nos outros; também nos odiamos neles”.
A cura deste processo patológico individual e coletivo só poderá vir através de um difícil e inadiável exercício de reflexão e autotransformação, para o qual o mantra abaixo poderia servir de estímulo e ponto de partida:
“Que o Bolsonaro que está lá nos ajude a identificar o Bonsonaro que habita em nós, permitindo-nos compreendê-lo, integrá-lo e transmutá-lo em pacífica e edificante (auto)criação”.
José Ramos Coelho – 20 de outubro de 2019

O VÍCIO POLÍTICO


O VÍCIO POLÍTICO
A alienação política é um comportamento extremamente danoso. A renúncia à própria cidadania contribui inevitavelmente, em grau individual, para a opressão coletiva de um povo. O analfabetismo político é, portanto, uma limitação muito perniciosa.
A atitude de neutralidade política, do mesmo modo, é altamente danosa. Pois, como observou o Desmond Tutu, prêmio Nobel da Paz, quem é neutro, diante de uma situação de opressão, optou pelo lado do opressor. Um exemplo disso é a atitude de todos aqueles que, dizendo-se “apolíticos”, não quiseram votar nas eleições e permitiram que o candidato fascista assumisse o poder. Na sua suposta neutralidade, tornaram-se cúmplices da catástrofe que se seguiu.
Por outro lado, no pólo oposto da questão, o engajamento ostensivo com os assuntos políticos pode ter também um efeito bastante deletério. A política é o ópio dos engajados. É o que ocorre no meu próprio caso.
De que forma uma politização acentuada pode ser prejudicial?
Em primeiro lugar, a política é como um jogo: há forças em conflito, cada uma defendendo os seus próprios interesses. Essas forças se fazem representar pelos partidos, os quais, nesta metáfora, seriam como jogadores em contenda.
Qual o objetivo desse jogo? É a vitória dos próprios interesses. Então, uma primeira conclusão a se tirar de tudo isso é que, no fundo, há um desejo de poder que subjaz a todo esse processo, o qual visa a transformação do mundo para atender às próprias demandas e necessidades.
Um viciado em jogos, contudo, sente-se completamente dominado pelo seu vício: respira a política, vive atrás das últimas notícias, gasta horas e horas ouvindo noticiários em busca das últimas novidades...
Eu, por exemplo, sou um terapeuta, filósofo, artista e escritor. Não sou político nem pertenço a nenhum partido político. No fundo, o que alimenta o meu envolvimento nesses assuntos é – percebi a dinâmica claramente – um sentimento de onipotência, uma esperança de contribuir para a transformação do mundo.
Contudo, ao lutar contra o partido adversário, deixo de considerar os meus inimigos internos, minhas fraquezas, defeitos e vícios, tornando-me refém deles e os retroalimentando. Definindo-me como um progressista na política, como um esquerdista, acreditando defender uma causa meritória, na verdade estou sendo um reacionário de minha evolução pessoal, contrariando frontalmente o sábio conselho de Gandhi: “Seja a mudança que você quer ver no mundo”.
Além de abortar em mim e desativar o desejo libertário de vencer as minhas próprias fraquezas e defeitos, o jogo político realiza, pela sua própria dinâmica, uma transferência e deslocamento para o outro desses defeitos e mazelas: o partido adversário e seus candidatos são odiosos, degenerados, ignorantes e maus. O outro torna-se uma projeção do meu lado mais sombrio e torpe. Passo, na minha ignorância, a lutar contra mim mesmo no outro, criticando-o e menosprezando-o sem saber que ele está a representar tudo o que não gosto em mim. Sou vítima e algoz de um auto-engano criado por mim mesmo.
Assim, a vida vai passando e eu deixo de me dedicar a tarefas realmente produtivas e úteis – como a prática mais intensiva de meditação, a prática de esportes, o estudo da música, a vida social, a leitura, etc.
E aí voltamos ao dilema inicial: cair na alienação política e ser subjugado, ou engajar-se e alimentar um auto-engano inútil?
A solução do conflito, penso eu, consiste em tentar descobrir e analisar as causas que levaram a esse vício (provavelmente de origem familiar) e procurar adotar a postura da raposa: ficar na espreita, atento aos acontecimentos mas não visceral e viciosamente engajado. Participar das manifestações sempre que possível, exercendo a própria cidadania, mas suprimindo e evitando a busca frenética de informações e as discussões estéreis.
E, sobretudo, ter o discernimento de diferenciar o que está e não está sob o meu controle. Eu posso mudar a situação política do país? Ela está sob o meu controle? Em caso positvo, preciso decidir o que posso fazer a esse respeito e perceber o que, efetivamente, está dentro do meu raio de ação, aprendendo a aceitar o que foge ao meu controle.
Estou preocupado com a situação política do país? Posso fazer alguma coisa a esse respeito, além de aprender a votar bem? Se a minha resposta for “não”, então devo ouvir menos as notícias terríveis dos telejornais, e focar mais a atenção naquelas atividades que efetivamente podem melhorar a minha vida e deixar-me feliz. Se acredito poder fazer algo a esse respeito, então poderia organizar grupos de encontro e conscientização, envolver-me em algum movimento social ou partido político. “Se você tem um problema e pode resolvê-lo, não se preocupe, resolva. Se você tem um problema e não pode resolvê-lo, de que adianta se preocupar?” (Ditado chinês)
José Ramos Coelho – 22 de setembro de 2019.