No apoteótico rito de passagem que ocorre todo final de ano, as pessoas do mundo inteiro se reúnem para celebrar o ano que se inicia e dar-lhe as boas vindas, fazendo os seus votos de um ano melhor e mais feliz.
A grande maioria, no entanto,
fracassa nos seus votos, fazendo desse rito de passagem um retorno ao ponto de
partida. Qual a razão desse malogro generalizado e coletivo?
O motivo fundamental é que todos nós,
em graus variáveis, somos bloqueados e impedidos.
O nível mais grave de impedimento
reside naqueles que se identificam completamente com a sua posição na
existência. Acreditam que "pau que nasce torto morre torto", e
orgulham -se de seus defeitos e vícios. Quando falam de si, sorriem ou mesmo
gargalham - o que patenteia o seu apego ao seu estilo de vida. São os
reincidentes.
Há um grupo intermediário que deseja
realmente que as coisas melhorem, se esforça,, traça planos e se empenha
verdadeiramente em sua implementação. Nutre o desejo e a esperança reais em
evoluir e melhorar. No entanto,, tão logo começa a alcançar os seus propósitos,
titubeia, recua, oscila e acaba pondo a perder tudo o que conquistou a duras
penas. Ditas pessoas vivem divididas em si mesmas. Uma parte deseja o progresso
e outra acredita não merecer nada de melhor. Por isso, ao agir, uma mão faz e
realiza, enquanto a outra desfaz e neutraliza.. Esses são os sabotadores.
Há, finalmente, aqueles poucos que
fluem pela vida como a agua: quando encontram um obstáculo em seu caminho, o
contornam e seguem adiante. Não há dentro de si nenhum entulho que atrapalhe o
seu fluir ligeiro. Alcançam sem bloqueios os seus intentos e propósitos. Esses
são os libertos.
O que faz uma pessoa ser um impedido,
um sabotador ou um liberto? O que leva alguém a não querer sair do lugar,
enquanto outros realizam viagens épicas?
Fundamentalmente é a imagem que fazem
de si mesmas. As pessoas vivem a vida que acreditam se adequar aos seus
pensamentos ou aos seus esquemas mentais.
Aprofundemos um pouco mais a questão.
O que leva alguém a optar em ser um reincidente?
Normalmente esses indivíduos tiveram
modelos parentais envoltos em fracassos na vida. Dar-se mal em tudo parece ser
a regra constante dessas pessoas. Ou, então, tiveram país aparentemente bem
sucedidos mas que, aos olhos dos filhos, não eram exemplos a serem seguidos. E
, por isso, para afronta-los, preferiram ser bem "errados".
Já os sabotadores situam -se num
plano diferente. Vivem imersos numa conflagração interior, onde um lado quer
avançar e outro não o permite. Quando, com muito esforço, dá um passo à frente
se inquieta e logo anda dois para trás. O que guia o seu comportamento é uma
crença de "não merecimento", a qual orienta a pessoa a recusar ou
desfazer qualquer realização positiva.
Finalmente, os libertos são gratos e
gentis. Seus sentimentos amistosos e amorosos os levam a superar todos os
entraves que surgem em seu caminho, contornando-os. São leves e graciosos. Por
onde passam irradiam alegria, fertilidade e esperança. Por isso, superam-se a
cada dia. E quando chegamos a vê-los depois de algum tempo, já são outros e bem
diversos. A vida é, para eles, um constante fluir e crescimento.
Que saibamos aos poucos migrar do
peso da estagnação à leveza fluida da incessante auto-superação.
José Ramos Coelho - 04 de setembro de
2020
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