PERDÃO
Imagine uma tela de radar abarrotada à frente de um
controlador de vôo estressado. Visualize o caos na sala e a confusão de aviões
na tela. Agora imagine que suas mágoas
não-resolvidas são os aviões visualizados na tela, voando em círculos há dias e
semanas sem fim. A maioria dos outros aviões já pousaram, mas suas mágoas
não-resolvidas continuam a ocupar um precioso espaço aéreo, exaurindo os
recursos necessários em caso de emergência. A presença dos aviões na tela o
obriga a trabalhar com mais intensidade e aumenta as chances de acidente. Os
aviões da mágoa se tornam uma fonte de estresse e o resultado é, muitas vezes,
um apagão.
Como é que os aviões
chegaram lá?
(1) Você assumiu algo em
termos muito pessoais; (2) você continuou a culpar a pessoa que o fez sofrer
pelo fato de se sentir mal; e (3) você criou uma história sobre a mágoa.
Antes de tudo, vamos procurar entender como surge uma mágoa.
Ela surge quando as duas coisas descritas a seguir ocorrem simultaneamente. A
primeira: algo acontece em nossas vidas
que não queríamos que acontecesse. A Segunda: lidamos com esse problema
pensando muito a seu respeito, ou, falando de outro modo, alugando um espaço
muito grande na mente para o desapontamento.
De
que maneira se pode sofrer, mas sem conservar uma mágoa latente? Em algum
momento da vida, cada um de nós foi ferido ou maltratado por alguém. Mas
algumas pessoas reagem melhor do que outras. Algumas falam sobre suas feridas
durante muito tempo e outras as tiram logo da mente. Se você for uma pessoa que
não esquece aquilo que o fez sofrer, então você está alimentando uma mágoa.
Uma mágoa surge porque algum
acontecimento ou coisa que realmente esperávamos que acontecesse não se
concretizou ou, o que dá no mesmo, algo aconteceu que não desejávamos que
acontecesse. Em ambos os casos nasceu uma mágoa, já que algo na vida se
desenrolou de modo muito diferente ao da expectativa. Diante do inesperado não
temos a habilidade de controlar os sentimentos.
P. ex., a sua companheira diz que quer terminar um relacionamento
que você deseja continuar. Ela pede para que você se mude e tire as coisas da
casa. Você não conseguiu ter o relacionamento de longo prazo desejado.
Ou: a sua mãe vivia muito ocupada e não lhe dava muita
atenção. Enquanto você crescia, ela parecia mais preocupada com as necessidades
dela do que com as suas. Quando adulto, você tem dificuldades em estabelecer
relacionamentos satisfatórios e, provavelmente, terá de aprender a ser pai ou
mãe por si.
Freqüentemente, as pessoas ficam deprimidas ou com raiva se
vivem uma experiência dolorosa. Elas se agarram a suas reações iniciais porque
não entendem que a especificidade do que ocorreu pode ser menos importante do
que aprender a maneira de lidar com as suas reações a respeito da experiência.
A mágoa surge se a pessoa não consegue lidar bem com o fato
de não conseguir o que deseja e, depois, aluga um espaço muito grande em sua
mente para um fato injusto.
Ao encontrar Carla pela primeira vez, ela falou sem parar
sobre os horrores da sua vida com o ex-marido. Os casos extraconjugais do
marido dominavam sua conversa. Ela se esmerava em qualquer conversa a respeito
de pessoas insensíveis, e aproveitava a oportunidade para introduzir nessa
conversa a questão de como seu ex-marido era medonho. Ao ouvi-la, podia-se
imaginar que o marido abandonara Carla recentemente; na realidade, isso
acontecera há cinco anos. Carla nunca mais voltou a se juntar ao seu ex-marido,
mas ainda alugava a melhor parte da sua mente para ele. Sendo assim, ela ainda
continuava vivendo junto com ele. Duvido muito que Carla pensasse tanto assim
nele no tempo em que eram casados.
Você é como Carla? Você fala repetidas vezes a respeito do
que lhe aconteceu? Você deixa sua mente se fixar na sua mágoa muitas vezes
durante o dia? Você se cansa de escutar outras pessoas repetindo a mesma
história?
Se você for capaz de enxergar sua mente como sua casa,
poderei lhe ensinar a controlar a quantidade de espaço que você aluga para suas
mágoas e feridas. Você é o proprietário; você fixa o aluguel. Cada um de nós
decide quem são os inquilinos e as condições dos seus aluguéis. Que tipo de
acomodação queremos dar para as feridas e mágoas?
Podemos permitir que as mágoas espalhem suas coisas em todos
os aposentos da casa, ou podemos oferecer para elas apenas um pequeno quarto
dos fundos. Em outras palavras, temos de formular a seguinte questão: quanto
tempo vamos gastar pensando a respeito dos sofrimentos e desapontamentos? E,
quando pensamos neles, quanta intensidade devemos investir nisso?
Freqüentemente pergunto às pessoas o motivo pelo qual não
pensam ou falam a respeito da sua boa sorte com a mesma energia que pensam ou
falam a respeito de sua má sorte. Essa questão sempre pega as pessoas de
surpresa. Raramente, elas avaliam sua boa sorte como uma alternativa igual à
obsessão que dedicam à má sorte. Você, ou alguém do seu conhecimento, aluga
mais espaço para o que está errado do que para o que está certo?
A tela da mente é igual a tela da tevê que comandamos pelo
controle remoto. Podemos assistir canais dedicados a filmes de horror, ao sexo,
a novelas e à mágoa, assim como canais que transmitem as belezas da natureza e
a cordialidade das pessoas. Qualquer pessoa pode sintonizar o canal da mágoa ou
o canal do perdão. Faça-se a seguinte pergunta: o que está passando no meu
canal hoje? Seu controle remoto está sintonizando os canais que o ajudarão a se
sentir bem?
Nesse instante, peço-lhe para revisitar uma ferida pessoal.
Desse modo, podemos ter uma idéia de como isto está afetando sua vida agora. Comece
o processo fechando os olhos e pensando a respeito da situação dolorosa por
alguns minutos. Depois de ficar claro para você o que aconteceu, pense ou
escreva um resumo a respeito da experiência. Conte a história sobre o que
aconteceu, no papel ou na sua cabeça.
Agora veja o que acontece quando você pensa sobre essa
situação hoje, por exemplo. Investigue os pensamentos mais freqüentes que você
tem sobre o que aconteceu. A seguir, reflita como você se sente quando pensa no
problema. Finalmente, pense a respeito do modo como seu organismo reage quando
você revisita o sofrimento.
Depois de você Ter gasto um certo tempo para considerar suas
respostas, contemple as seguintes questões:
1.
Você pensa sobre essa situação dolorosa
mais do que pensa nas coisas boas da sua vida?
2.
Ao pensar sobre essa situação dolorosa,
você fica fisicamente indisposto ou emocionalmente perturbado?
3.
Quando pensa sobre essa situação, você tem
os mesmos e antigos e repetidos pensamentos?
4.
Você se pega contando a história sobre o
que aconteceu repetidas vezes na sua mente?
Se
você respondeu com um sim a qualquer uma das quatro questões, provavelmente
você criou uma mágoa que está alugando um espaço muito grande na sua mente. Se
respondeu com um sim a qualquer uma das quatro questões, provavelmente você tem
uma mágoa que pode ser curada.
ASSUMINDO AS COISAS EM TERMOS MUITO PESSOAIS :
primeira etapa da criação de uma mágoa.
Todos nós já percebemos que algumas pessoas lidam com
circunstâncias dolorosas desenvolvendo mágoas, enquanto outras pessoas não as
desenvolvem. Cada um de nós conhece alguém que simplesmente não se aborrece com
coisa alguma. Algumas pessoas são capazes de se adaptar à dificuldade, enquanto
outras permanecem atoladas nela durante anos. Freqüentemente as pessoas se perguntam
se a razão pela qual se abalaram é porque aquilo que as fez sofrer foi pior do
que fez sofrer outras pessoas. Ou concluem que se sentem tão mal porque são
mais sensíveis do que as outras pessoas.
Embora cada uma dessas hipóteses tenha seu mérito, afirmo
que o surgimento de uma mágoa segue aquele processo simples que citamos em três
etapas (assumir uma afronta em termos muitos pessoais, culpar o autor da
afronta por como você se sente e criar uma história sobre a mágoa).
Ficar magoado não é sinal de fraqueza, estupidez ou falta de
auto-estima. Muitas vezes, significa simplesmente que falta treinamento de como
fazer as coisas de outro modo.
O aprendizado de lidar com sofrimentos, ofensas e
desapontamentos com mais habilidade não impedirá que as coisas possam correr
mal na vida. As pessoas continuam sendo pouco amáveis, e casos fortuitos podem
ainda fazê-lo sofrer. O mundo está repleto de sofrimento e dificuldade, e só
porque você aprendeu a se adaptar melhor não significa que os problemas
acabaram. O que irá mudar, porém, é o
espaço que você aluga para eles em sua mente e a quantidade de raiva,
desesperança e aflição que você sente. A vida não é perfeita, mas você pode
aprender a sofrer menos. Você pode aprender a perdoar, e pode aprender a se
curar.
Todos
os casos dolorosos da vida apresentam
caráter tanto pessoal quanto impessoal. A história de Maria nos ajuda a
diferenciar entre o pessoal e o impessoal, e mostra como o enfoque exclusivo no
pessoal cria uma mágoa.
Maria é uma mulher de 50 anos, que luta contra a depressão e
a baixa auto-estima. Ela localiza a origem dos seus problemas emocionais na sua
educação de criança. Filha única de um casal preso em um casamento sem amor,
Maria cresceu sob os cuidados de uma mãe fria e ocupada com outras coisas. Ela
se sentia amada por seu pai, mas ele raramente ficava em casa, pois era
militar, e a família mudava com freqüência. Maria se recorda do que sentia ao
chegar em casa sabendo que ninguém estaria ali para cuidar dela.
Maria ainda se queixa para o marido e os amigos que sua mãe
não a amou o suficiente. Atualmente, a mãe de Maria tem mais de oitenta anos,
e, antes da morte dela, Maria ainda espera conseguir o amor que não teve.
Maria, com 50 anos, ainda assume em
termos pessoais a rejeição materna e por causa disso continua a sofrer. Maria
tem uma ferida com 40 anos de cidade. O abandono que ela sente é pessoal porque
Maria ainda deseja o amor da sua mãe, enquanto muitas vezes rejeita o amor
oferecido por seus filhos e pelo seu marido. O abandono é pessoal porque Maria
se sente solitária em sua falta de amor e aluga um espaço muito grande na sua
mente para sua solidão.
Cada
caso doloroso da vida apresenta um elemento pessoal e um elemento impessoal, e
Maria não aprendeu a encontrar a perspectiva impessoal.
O caráter
pessoal refere-se ao fato de que a mãe de Maria não deu o amor que a filha
queria. Além do mais, a mãe de Maria ainda não oferece a atenção que ela
anseia. Isto está acontecendo para Maria e para ninguém mais.
Quando
criança, Maria, de modo legítimo, assumiu em termos pessoais a indiferença
materna. Infelizmente, quando adulta, ela continua a fazer isso.
Quando
algo doloroso acontece para alguém, conseguimos sentir o caráter impessoal da
afronta, e raramente sentimos uma dor pessoal. Diariamente, quando lemos o
jornal ou assistimos à tevê, tomamos conhecimento das diversas pessoas que
passam por tragédias ou sofrimentos. Em cada cidade do país, pessoas definham
em hospitais e asilos sem que ninguém se preocupe com elas.
Não
podemos sentir pessoalmente o impacto de cada uma dessas desgraças. O fato de
ignorar, ou de ser indiferente a algumas desgraças, reflete a compreensão de
que talvez não possamos lidar com todo o sofrimento do mundo. Sabemos que o
sofrimento impessoal está em toda a parte.
O desafio é localizar o elemento impessoal
do sofrimento quando a rejeição, os maus-tratos e as afrontas acontecem para
nós. Em vez de nos
sentirmos sós no sofrimento, devemos lembrar o fato de que muitas outras
pessoas também têm pais desalmados ou negligentes, o que significa que os
próprios maus-tratos não são só pessoais. Maria não vê que é comum tanto ter
pais negligentes, como sofrer com isso. Se conseguisse perceber alguma dessas
coisas, Maria encontraria o caráter impessoal do seu sofrimento.
Devido ao fato de sentir tanto sofrimento,
Maria age como se sua mãe a fizesse sofrer intencionalmente. A mágoa dolorosa e
tão duradoura de Maria é conseqüência direta da sua incapacidade de entender o caráter impessoal da sua
ferida.
COMO
DESCOBRIR O IMPESSOAL NO SOFRIMENTO
Para
Maria, assim como para cada um de nós, o caráter impessoal do sofrimento pode
ser desvendado de dois modos. O modo mais fácil é perceber o quão comum é cada
experiência dolorosa. Nada que nos acontece é exclusivo; isso é um fato da vida.
Se você lembrar que é apenas uma das duzentas pessoas assaltadas na sua
comunidade, é difícil assumir o fato em termos pessoais. Ao examinar com
atenção, sempre podemos encontrar ao menos dez pessoas que sofreram do mesmo
modo. A grande e diversificada quantidade de grupos de apoio espalhados pelo
país comprova tal fato. Lembrar o quão comum é o nosso sofrimento pode fazer
parecer que a dor está sendo banalizada, mas vale a pena assumir esse risco
para não sofrermos tanto.
O segundo modo para desvendar a dimensão
impessoal do sofrimento é entender que a maioria das afrontas é cometida sem a
intenção de fazer alguém sofrer pessoalmente. A mãe de Maria não quis arruinar a vida da
sua filha. Ela era incapaz de amar a filha devido a uma infinidade de fatores. Ela
casou muito jovem para escapar dos abusos do pai, assumindo um matrimônio
infeliz. Seu marido se mudava com freqüência, o que tornava difícil fazer
amizades. Além disso, o marido era louco por Maria, e ela sentia ciúmes.
Muitas das
afrontas que sofremos não tinham a intenção de nos ferir. Algumas tinham, mas
são raras.
Porém, Maria se ajudaria se aprendesse algo
a partir da crueldade de sua mãe, de modo a não repetir esses erros. Quando
conheci Maria, ela estava reproduzindo a frieza da sua mãe com seus próprios
filhos. Sua dor e solidão
eram tais que muitas vezes ficava esgotada com sua própria perda, sem conseguir
oferecer qualquer amor ou afeto. Maria
também não tinha a intenção de fazer seus filhos sofrerem, mas suponho que ela
lhes causava bastante dor.
Se não
conseguimos reconhecer o caráter impessoal, fixamos uma etapa para a criação de
uma mágoa.
Maria
afirma que a negligência dos seus pais arruinou sua vida, e tal experiência é
intensamente pessoal para ela. Para um sociólogo que realiza um trabalho sobre
negligência dos pais, Maria pode ser apenas mais um objeto de estudo entre três
mil mulheres.
O
sociólogo enxerga o sofrimento de Maria como algo impessoal; para Maria, seu
sofrimento é pessoal. Os dois pontos de vista são válidos. Cada um deles
representa uma maneira diferente de perceber a mesma situação. As pessoas lidam
melhor com as afrontas quando conseguem ver os dois pontos de vista. Quando
você identifica a dimensão impessoal depois de enfocar apenas sua dor pessoal,
descobre que seu sofrimento específico não tem de incapacitá-lo.
Quando
reagimos a coisas que aconteceram para nós ou para outros, desejamos ser
capazes de reconhecer o sofrimento, mas sem ficarmos presos a ele. Isso é mais
fácil de ser feito em relação aos sofrimentos alheios, mas também é possível
com os nossos sofrimentos. Acredito que nos livramos com mais facilidade das
afrontas quando somos capazes de reconhecer o dano causado. Ao mesmo tempo,
quero que cada um de nós possa dizer que o que aconteceu não foi uma desgraça exclusiva,
mas o início de uma nova história de perdão e cura.
Depois que
Maria percebeu o caráter impessoal, ela não renegou o impacto do caráter
pessoal. O pessoal e o impessoal convivem lado a lado.
O enfoque
no caráter pessoal do sofrimento é a primeira etapa na criação de uma mágoa.
Como Maria ignorou o caráter impessoal da maneira pela qual sua mãe fria e
negligente a tratou, continua a sofrer quarenta anos depois.
O vínculo
entre o fato de assumir as coisas em termos muito pessoais e o fato de por em
risco a saúde é a Segunda etapa no processo relativo à mágoa. Colocamos a saúde
em risco quando culpamos o autor da ofensa por como nos sentimos, piorando uma
situação já ruim.
O JOGO DA
CULPA
Quando
algo nos faz sofrer e perguntamos a nós mesmos; “De quem é a culpa?”, e, em
seguida, teimamos que a razão do sofrimento reside em alguma outra pessoa, entramos na segunda etapa do processo
relativo à mágoa. Estamos fazendo o jogo da culpa: isto é, estamos culpando,
acusando ou responsabilizando alguém pelos nossos infortúnios. Isso é um
problema, porque quando a causa do sofrimento se situa fora de nós, também
vamos olhar para fora em busca da solução.
Taumaturgo
é um homem de trinta e cinco anos que descobriu que sua esposa estava tendo um
caso. Quando descobriu que Elaine o estava enganando, ficou furioso e pediu o
divórcio.
Agora,
quando fala a respeito da ex-esposa, Taumaturgo afirma que ela tentou arruinar
sua vida. Diz que ela tinha medo das relações íntimas e o fazia sofrer
intencionalmente. Taumaturgo adotou a hipótese da culpa para explicar a dor que
continua a sentir.
Podemos
aprender a formular hipóteses que nos motivarão a melhorar nossas vidas e,
desse modo, curar os sofrimentos. Isso é o oposto do ato de atribuir culpa. Quando culpamos alguma pessoa pelos
problemas, permanecemos paralisados no passado e o sofrimento aumenta.
Infelizmente, ignoramos o quanto limitamos as chances de cura quando culpamos
alguém.
Ao se
fazer o jogo da culpa, oferecemos o pior tipo de hipótese relativamente ao motivo
pelo qual sofremos. Em geral, a hipótese da culpa é garantida para nos fazer
sofrer, sofrer e sofrer, até que adotemos outra hipótese.
O sedutor
a respeito do jogo da culpa é que, de início, você pode se sentir melhor. Você
pode sentir alívio a curto prazo, porque
o sofrimento é responsabilidade de alguém. A longo prazo, porém, os sentimentos
favoráveis desaparecem e você começa a se sentir desamparado e vulnerável.
Apenas você é capaz de tomar as medidas que lhe permitirão sentir-se melhor.
Taumaturgo
não sabe exatamente porque ainda sofre tanto. Sua hipótese é que sofre porque
sua esposa desejava magoá-lo e, assim, trocá-lo por outro homem. Ele culpa sua
ex-esposa por sua dor.
Embora sem
isentar sua esposa da responsabilidade por seu comportamento, contesto a
teimosia de Taumaturgo ao afirmar que a ex-esposa está causando seu sofrimento
no presente. Não faz sentido Taumaturgo fazer o jogo da culpa, porque em vez de
fazê-lo se sentir melhor, o jogo da culpa o faz se sentir pior. Sua esposa do
passado permanece no governo do seu bem-estar presente.
Minha hipótese a respeito de o que aflige
Taumaturgo é que ele está alugando um espaço muito grande em sua mente para sua
ex-esposa. Ele está fazendo algo na sua vida cotidiana que leva ao seu atual
sofrimento. O ato de atribuir culpa levado a cabo por Taumaturgo está lhe
fazendo sofrer. Se ele reduzir esse processo, sua dor diminuirá. Ele é o único
responsável pelo modo como se sente no presente. Em vez de atribuir a culpa pelo seu sofrimento à sua ex-esposa,
Taumaturgo deveria formular a seguinte questão para si: “O que devo aprender
para me ajudar a sofrer menos?”
Quando
pensamos sobre um sofrimento, o organismo reage como se estivesse em perigo e
ativa o que se conhece como a reação lutar-ou-fugir. O organismo libera
substâncias químicas cujo objetivo é nos preparar para reagir ao perigo por
meio da luta ou da fuga. São liberadas substâncias químicas associadas ao
estresse. Elas têm o objetivo de nos deixar pouco à vontade, para que façamos
alguma coisa que nos livre do perigo.
Essas
substâncias químicas chamam a atenção por provocarem mudanças físicas. Elas
fazem o coração bater mais rápido e os vasos sangüíneos se contraírem, elevando
a pressão arterial. O fígado descarrega colesterol na circulação sangüínea,
prejudicando o coração. As substâncias químicas associadas ao estresse alteram
a digestão e fazem os músculos se retesarem. A respiração fica menos profunda,
e os sentidos se avivam para fazer frente ao problema. A digestão é
interrompida e o fluxo do sangue desviado para o centro do organismo. Nós nos
sentimos nervosos e indispostos.
A maioria
de nós responsabiliza a pessoa que nos faz sofrer por essa reação desagradável
do organismo. Quando fazemos isso, estamos compactuando com o jogo da culpa,
mantendo-nos paralisados e impotentes por um longo tempo.
Quando
você pensa em alguém que o fez sofrer profundamente, seu sistema nervoso
simpático se põe em ação. O sistema nervoso simpático é o ramo do sistema
nervoso autônomo cujo objetivo é impulsionar o organismo a nos proteger do
perigo. O sistema nervoso autônomo controla os órgãos internos, como o coração,
os músculos lisos e o aparelho respiratório. O sistema nervoso autônomo possui
um outro ramo, denominado sistema parassimpático, que nos acalma passado o
perigo. Esses dois sistemas estão sempre funcionando. Quando um perigo se
apresenta, o sistema simpático é acionado e controla a reação lutar-ou-fugir.
Quando o perigo passou ou estamos relaxados, o sistema parassimpático controla
a ação e nos acalma.
A reação
lutar-ou-fugir referente ao sistema nervoso simpático é rápida e previsível. O
problema é que essa reação nos dá apenas duas opções: dominar combatendo ou fugir. Podemos querer pagar a
pessoa que nos fez sofrer com a mesma moeda. Podemos querer que a pessoa sofra
da mesma maneira que sofremos. Alternativamente, podemos não querer nunca mais
voltar a ver aquele que nos magoou. Podemos tentar nunca mais pensar nessa
pessoa. Embora essa ação de assumir algo em termos muito pessoais seja comum,
ela é, principalmente, resultado das substâncias químicas associadas ao
estresse percorrendo o organismo. São reações primitivas, não o resultado de um
pensamento cuidadoso ou produtivo. O problema é que as opções que essas
substâncias químicas associadas ao estresse nos oferecem são inadequadas em nos
ajudar a recuperar o controle da vida emocional.
Para
piorar as coisas, a reação lutar-ou-fugir altera a capacidade de pensamento.
Parte do trabalho das substâncias químicas associadas ao estresse para nos
proteger do perigo limita a quantidade de atividade elétrica disponível para a
parte pensante do cérebro. Essas substâncias também desviam o fluxo sangüíneo
do centro do pensamento do cérebro para partes mais primitivas do mesmo. Ao
dizer que está muito perturbada por causa de sua mãe e não consegue nem mesmo
pensar direito, Maria está falando a verdade. Quando você se frustra porque
pensa a mesma coisa repetidas vezes a respeito de suas mágoas, há um motivo.
O maior erro que cometemos enquanto estamos
sob a influência das substâncias químicas associadas ao estresse é culpar a
pessoa que nos fez sofrer pela aflição. Quando culpamos outra pessoa pela
maneira como nos sentimos, concedemos a essa pessoa o poder de controlar as
nossas emoções. Com toda a
probabilidade, esse poder não será usado com sabedoria, e continuaremos
sofrendo. A quantidade de pessoas que transfere o poder para gente que está
pouco se importando com elas é tremendamente alta.
Sentir-se mal sempre que pensamos a
respeito da pessoa que nos fez sofrer torna-se um hábito, fazendo-nos sentir
como a vítima de alguém mais poderoso. Sentimo-nos impotentes porque somos constantemente lembrados,
tanto na mente quanto no corpo, de quão mal nos sentimos. Quando culpamos o
autor da afronta por essa normal reação de proteção, cometemos um erro. Esse erro retira a chave do alívio das suas
mãos e a coloca nas mãos de outra pessoa.
Durante o
período de crescimento, Paulo foi tratado de modo terrível por sua mãe
alcoólatra e por seu pai abusivo e ausente. Ele se lembra de sua mãe
desfalecida no sofá e do embaraço que sentiu quando os amigos chegaram para
visitá-lo. O seu pai chegava em casa e sempre brigava com a mulher, e depois
agredia Paulo. Quando Paulo estava com dezesseis anos, fugiu de casa. Então,
não recebeu mais nenhuma atenção dos pais, pois nenhum dos dois respondia aos
seus apelos ou cartas.
Juntando o
insulto à injúria, a mãe de Paulo o culpava pela desintegração da família.
Paulo ligava para ela, e a mãe lhe dizia o quanto fez o pai sofrer, além de ter
dividido a família. Na última conversa telefônica, gritou com ele, acusando-o
de ter desintegrado a família: pouco tempo depois, ela morreu.
Embora
sinta empatia em relação às terríveis experiências da infância e início da
idade adulta de Paulo, pergunto se faz
algum sentido culpar sua mãe por sua atual raiva. Sua mãe era indiferente e
muitas vezes cruel, porém, recém-falecida, não poderia mais mudar as coisas. Paulo
permanece ligado a ela, pois a culpa pelos fracassos da sua vida e por sua
raiva crônica. Mesmo mais arrefecido, Paulo continua a transferir seu poder
para alguém que foi cruel e que, mesmo no final da vida, não teve vontade nem
capacidade de mudar.
Percebo
continuamente que a experiência de Paulo é muito comum. Conheço diversas
pessoas que transferem seu poder para pessoas que foram cruéis com elas.
Formulo a seguinte questão: quantos transferem o poder a um sócio que tem más
intenções ou a uma namorada que o enganou? Quantos de vocês conhecem pessoas
que olham mais para trás do que para a frente? Quantos passam anos alugando um
espaço muito grande na mente para mágoas passadas?
Pense no
sofrimento desperdiçado que você desenvolveu por se ligar pela culpa a pessoas
que não ligam para você. Esse sofrimento é o poço sem fundo que aguarda aqueles
que fazem o jogo da culpa.
Cada uma
dessas pessoas se manteve presa a algum tipo de problema, culpando um outro por
seu contínuo sofrimento. Todas ficaram ligadas durante anos à pior parte de
suas vidas. Ao tentar solucionar o problema referente a um sofrimento
imerecido, todas, na realidade, pioraram o problema. O problema dessas pessoas
era o seguinte: como viver suas vidas, curando-se e seguindo adiante. Elas
tentaram uma solução: culpar, acusar ou responsabilizar uma outra pessoa; mas
isso só as manteve paralisadas. Conversou-as em relacionamentos com pessoas que
as fizeram sofrer e prolongou sua impotência e sofrimento.
É difícil
se livrar do sofrimento diante da crueldade das pessoas. Repetidas vezes, tenho
notado que o perdão concede essa habilidade. O perdão nos permite recuperar o
poder que está nas mãos das pessoas que continuam a nos fazer sofrer mediante
nosso uso da culpa ou da ofensa pessoal. Ficar ligado a pessoas que foram pouco
amáveis, assumindo as coisas em termos muito pessoais, é a primeira etapa num
processo no qual reforçamos a mágoa que aparece quando não conseguimos o que
queríamos. A culpa é a segunda etapa. A terceira é criar uma história sobre a
mágoa.
A HISTÓRIA
SOBRE A MÁGOA.
A maneira
pela qual construímos uma história tem conseqüências para nosso bem-estar.
Quando falamos sobre mágoas ou feridas, o modo pelo qual criamos a história
terá máxima importância.
A história
põe em uma seqüência o que nos aconteceu e nos permite descrever os
sentimentos. Oferece um comentário sobre os fatos e permite que a ação das
pessoas seja interpretada. Ainda mais importante: a história permite que afirmemos qual é o significado da experiência
para nós. Para fazer isso, temos de decidir que fatos destacar e que fatos
minimizar ou pôr de lado. Qualquer de nós pouco sabe da conseqüência em relação
ao que decidiu destacar, interpretar e omitir no relato. Pouco sabemos do
possível dano se o relato torna-se uma história sobre a mágoa.
Você pode
não Ter considerado que a história que relata surge da selação de um conteúdo
entre uma vasta gama de possíveis experiências. Você pode não Ter considerado
que houve uma tomada de decisão, ou que há infinitas maneiras de descrever uma
situação. Você pode não Ter percebido que o principal propósito da sua história
é auxiliá-lo a entender o que houve. O
objetivo principal de qualquer história é ajudá-lo a pôr em contexto o
ocorrido. O objetivo secundário é a descrição simples dos fatos.
Não há
história que relate exatamente aquilo que se origina de todos os pontos de vista.
Não há uma única história verdadeira, mas muitos pontos de vista. Sua história reflete seu ponto de vista e,
além disso, comunica um tema. Ao escolher seu tema, você muitas vezes tem de
optar entre o papel de herói ou vítima, ou descrever outras pessoas como heróis
ou vilões. As vezes, o ponto principal da sua história é o quão bem você se
comportou; algumas vezes, envolve promover suas habilidades. Outras vezes, o
ponto principal de sua história inclui a narrativa em detalhes de quão ruins as
coisas estão.
A história
pode ser conservada para si ou dividida
com os outros. Só porque você não conta para ninguém não significa que você
não tenha um modo particular de falar para si sobre o que aconteceu. Para cada coisa que acontece, você cria uma
história. Essa história, a freqüência pela qual você a conta, para quem você a
conta e de que maneira a conta afetam dramaticamente sua vida. O tipo de
história que você relata determina como se lembra do episódio e como ele afeta
sua vida.
Freqüentemente,
por meio do relato da história, nos ligamos de modo negativo a uma situação
prejudicial que nos afetou. O perigo é que podemos nos habituar a contar a
história desagradável, que assumimos em termos muito pessoais, e então culpar a
outra pessoa por algo feito no passado. Pintamos o quadro da impotência em
virtude da crueldade de alguém. Ao fazer isso, criamos uma história sobre a
mágoa.
Um estudo
revelou que a história que se relata a respeito do sofrimento muda se a pessoa
foi autora ou vítima da afronta. Numa pesquisa, alguns psicólogos pediram aos
entrevistados para que respondessem um teste que descrevia uma situação banal –
um acidente de carro – em que uma pessoa machucava outra. Nesse teste, havia
uma pessoa que evidentemente era a vítima, mas os entrevistados recebiam apenas
detalhes parciais. Os psicólogos então pediram para que os entrevistados
criassem uma história que incluísse detalhes do seu ponto de vista pessoal. Eles podiam se expressar tanto como autores
quanto como vítimas do acidente.
Os
entrevistados podiam descrever o que houve antes do acidente, o que os
envolvidos estavam pensando ou qualquer outra coisa, como as condições
meteorológicas ou de trânsito. A resposta deles podia Ter qualquer extensão. A
razão dessa flexibilidade era a de dar a cada pessoa a liberdade de responder
como quisesse.
Os resultados do
estudo mostraram claramente uma coisa. Se
você for o autor da afronta em uma situação difícil, verá as coisas de maneira
bem diferente do que se você for a vítima. Os entrevistados que responderam
do ponto de vista da vítima minimizaram sua responsabilidade e culparam o autor
da afronta. Para eles, a pessoa que as fez sofrer teve a intenção de causar
dano, e eles eram relativamente inocentes em relação ao sucedido.
Os entrevistados
que escreveram do ponto de vista do autor da afronta responderam de maneira
diferente. Essas pessoas atribuíram maior responsabilidade pelo ocorrido à
vítima e minimizaram o dano causado por suas ações. Em suas histórias, o
sofrimento foi mais acidental, e a vítima muitas vezes fez alguma coisa para se
expor ao perigo. É interessante
constatar que, em nenhum dos dois grupos, as pessoas prestaram um relato
objetivo da situação. As pessoas de ambos os lados deram uma versão que
refletiu seus pontos de vista. Não houve realidade objetiva, nem uma realidade
acordada entre as partes.
Você reconhece
uma história sobre a mágoa quando sente alvoroço no estômago, aperto no peito
ou suor nas palmas das mãos. As histórias sobre a mágoa são aquelas que você
conta para seu amigo para explicar porque sua vida não está do jeito que você
gostaria. São aquelas que você apresenta para justificar porque está infeliz ou
com raiva.
Eis um teste
conciso que ajuda a identificar se a história que você conta para si e para os
outros é uma história sobre a mágoa.
1. Você contou sua história mais de duas vezes
para a mesma pessoa?
2. Você reprisa os acontecimentos mais de duas
vezes por dia em sua mente?
3. Você se pega conversando com a pessoa que o
fez sofrer mesmo quando essa não está presente?
4. Você se comprometeu a relatar a história
sem se perturbar e depois se pegou inesperadamente agitado?
5. A pessoa que o fez sofrer é a personagem
principal da sua história?
6. Quando você conta a história, ela traz à
sua memória outras coisas dolorosas que lhe aconteceram?
7. A sua história enfoca principalmente sua
dor e o que você perdeu?
8. Há um vilão em sua história?
9. Você se comprometeu a não voltar a contar
sua história e depois quebrou sua promessa?
10. Você procura outras pessoas com problemas
semelhantes para contar sua história?
11. Sua história continua a mesma ao longo do
tempo?
12. Você conferiu os detalhes de sua história?
Se você respondeu afirmativamente a cinco ou mais das
primeiras onze questões e/ou negativamente a questão 12, há uma boa chance de
você estar relatando uma história sobre a mágoa. Neste caso, não perca a
esperança. É tão fácil criar uma história sobre a mágoa quanto modificá-la.
É difícil dar uma chacoalhada na história sobre a mágoa devido
à maneira como criamos as lembranças. A mente armazena lembranças em
categorias. Para dar sentido às coisas que aconteceram, ligamos os pensamentos,
associando-os a outras lembranças. Algumas lembranças podem ser armazenadas em
mais de uma categoria. Quando coisas ruins acontecem, as lembranças podem ser
armazenadas na caixa “histórias sobre a mágoa”. Ou podem ser armazenadas na
caixa “as pessoas não gostam de mim”. Algumas pessoas possuem grandes caixas
para essas categorias e, consequentemente, lembram-se facilmente de sofrimentos
e mágoas.
Depois de armazenar as lembranças
em diversas categorias, a mente procura localizar fatos passados que
correspondem ao estado de espírito atual. Se nos sentimos tristes no presente, temos acesso instantâneo
a lembranças tristes do passado. Se nos sentimos zangados no presente, então
tendemos a localizar lembranças de outras coisas que nos levaram à exasperação.
Se pensamos numa situação em que fomos maltratados, outros exemplos a esse
respeito ocuparão nossa mente.
As categorias de lembranças
mais prejudiciais são as que o lembram de quando você ficou impotente ou com
raiva. As histórias sobre a mágoa fazem isso pela sua própria natureza. Devido à natureza associativa da lembrança,
as coisas que trazem à tona essas categorias levam cada vez mais a sentimentos
dolorosos. Quando enfocamos os fatos
dolorosos do passado, reduzimos a autoconfiança. Além disso, ativamos
substâncias químicas associadas ao estresse, que põem em risco o bem-estar
físico.
Quando criamos uma história relacionada à mágoa, entramos na
etapa final do processo relativo a ela. Sofremos se contamos a história sobre a
mágoa repetidas vezes aos outros ou a nós mesmos. Ainda que seja a terceira e
última etapa do processo relativo à mágoa, a história sobre a mágoa muitas
vezes assinala o início de futuras dificuldades. Ela é a fábula a respeito da
impotência e frustração, com base na ação de assumir alguma coisa em termos
muito pessoais e culpar alguém por como nos sentimos. A história sobre a mágoa
parece verdadeira sempre que a contamos porque as substâncias químicas familiares
associadas ao estresse circulam por nosso organismo. Porém, o ato de contar uma
história sobre a mágoa é perigoso tanto para a confiança quanto para o estado
de espírito. Também é um risco à saúde, pois a pressão alta pode se manifestar
quando se pensa sobre uma história desse tipo com muita freqüência.
Na elaboração da sua história sobre a mágoa, Taumaturgo
enfocou a parte do seu abandono que transformou seu sofrimento em algo pessoal.
Taumaturgo sublinhou a infidelidade da ex-esposa e ignorou os problemas do
casamento. Durante anos, sua esposa queixou-se sobre sua falta de entusiasmo
sexual. Ele sempre destacou os defeitos da sua ex-esposa e nunca nenhuma das
tentativas dela para solucionar os problemas. Taumaturgo sentiu-se atormentado
pela perda e foi incapaz de perceber que uma quantidade enorme de pessoas vive
situações parecidas. Ele culpava sua ex-esposa sempre que se sentia só, que
ficava com inveja em relação a outros casais ou que enfrentava problemas
financeiros. A história de Taumaturgo sobre a mágoa fortalecia sua crença de
que a vida parecia vazia sem o amor e apoio da sua esposa.
Taumaturgo não concluiu o processo relativo à magoa até que
construiu sua história sobre a mágoa. Quando sua esposa o deixou, ele ficou
numa situação que o fez sofrer muito. Ele poderia Ter assumido as atitudes de
sua ex-esposa em termos muito pessoais, tê-la culpado por sua dor, e ainda assim poderia ter criado uma
história em que ele tivesse algum poder pessoal. Apenas quando Taumaturgo
criou a história sobre a mágoa perdeu a flexibilidade relativa a uma possível
reação. Ele não tinha de se pôr como
vítima. Existem tanto histórias de homens que sobrevivem à perda como de homens
que desmoronam.
Depois que sua esposa partiu, os amigos de Taumaturgo ficaram
ao seu lado. Eles o apoiaram e deixaram que ele se lamentasse e se queixasse.
Taumaturgo encontrou outros homens abandonados pelas esposas, e todos achavam
que as mulheres não inspiravam confiança e eram interesseiras. Então, durante
um curto período, Taumaturgo, apesar do grande sofrimento, sentiu-se muito
apoiado.
Infelizmente, o apoio para Taumaturgo diminuiu à medida que
seus amigos desenvolviam outros interesses e se dedicavam às suas vidas. Outros
homens recém-divorciados tocaram suas vidas para frente e não precisavam nem
queriam mais escutar as mesmas queixas. Esses homens se cansaram se escutar os
lamentos de si mesmos e de Taumaturgo. Começaram a evitar Taumaturgo, que
também passou a culpar sua ex-esposa por isso. De má vontade, Taumaturgo
começou a marcar encontros com outras mulheres, mas sempre se desapontava, uma
mulher era muito magra, outra falava demais e uma terceira não o escutava.
Quando o conheci, Taumaturgo estava amargurado e sozinho, sem
entender porque se tornara tão infeliz. Ele não tinha ideia do tributo cobrado
por sua história sobre a mágoa. Cada uma
das punhaladas mentais que dava em sua ex-esposa o atingia de volta. Taumaturgo
não conseguia atrair outra mulher por causa da raiva que dirigia à sua
ex-esposa. Julgava as pessoas com severidade devido à desconfiança que
sentia. A dor quase não deixava Taumaturgo desenvolver assuntos capazes de
atrair os amigos para uma conversa. Taumaturgo culpava tudo pelo fato de se
sentir um lixo, e essa foi a triste história que relatou.
Taumaturgo desenvolveu uma história sobre a mágoa porque
contou a mesma história repetidas vezes. Contou uma história em que atribuía
toda responsabilidade por seu mal-estar a sua ex-mulher. Sua história se tornou
uma história sobre a mágoa porque, a cada instante, assumia as atitudes da sua
esposa em termos muito pessoais. Todo momento culpava coisas feitas no passado
por seu infortúnio atual. Resistia aos conselhos dos amigos e da família para
tocar sua vida para frente; em vez disso, permanecia paralisado num ciclo de dor.
BUSCANDO APOIO SOCIAL
Os estudiosos constataram que pessoas como Taumaturgo, que
partilham suas experiências de vida com outras pessoas, tendem a lidar melhor
com o estresse. Isso se denomina apoio social, e, em geral, quanto mais apoio,
melhor. Geralmente, as pessoas que contam com os amigos ou a família são mais
felizes e têm uma saúde melhor.
Os estudiosos constataram que as pessoas que não têm amigos e
precisam lidar sozinhas com as coisas enfrentam com mais dificuldade as
experiências da vida e também morrem mais cedo. De fato, um grande estudo
revelou que pessoas socialmente soladas correm um risco maior de morte
prematura. A falta de companhia é tão perigosa – se não mais – para a
sobrevivência quanto o vício de fumar. Outro estudo mostrou que as pessoas de
certa idade, vítimas de ataques cardíacos, provavelmente morrem mais no
hospital se não recebem visitas. Se elas recebem uma visita suas chances de
deixarem o hospital com vida crescem significativamente. Quanto mais visitas,
maiores as chances de sobrevivência.
Quando se tem de lidar com dificuldades da vida, como perda de
emprego, mudanças no negócio, experiências estressantes no trabalho ou uma
permanência prolongada no hospital, o apoio social é crucial. Estudos também
mostram que a ajuda adequada dos amigos e da família nos protege de doenças.
Além disso, minimiza o estresse que enfrentamos.
As pessoas que mais se beneficiaram do apoio social
solicitaram auxílio por um período de tempo mais curto. Pediram conselhos e
quiseram aprender como enfrentar melhor o que lhes aconteceu. Viram-se diante
de um desafio e o encararam. Poderiam Ter criado uma história sobre a mágoa,
mas, em vez disso, usaram o bom senso e o apoio dos amigos para suportar a
crise e relatar uma história positiva do êxito de sua luta.
Aquelas pessoas que não se beneficiaram do apoio social
solicitaram outras coisas da família e dos amigos. Elas tendiam a se queixar à
família e aos amigos do modo inadequado como foram tratadas; forçavam os amigos
e a família a apoiá-las mesmo quando estavam erradas. Achavam seus problemas
gigantescos e melindravam-se com os desafios que tinham de enfrentar. Sua
auto-estima era muito baixa, fazendo com que resistissem aos conselhos que as
ajudariam a mudar para melhor. Essas pessoas relatavam uma história sobre a
mágoa e resistiam a abandonar tal história. Como conseqüência, sofreram
problemas de saúde.
Desejo relatar a
história de uma mulher que usou a ajuda dos amigos e da família com sabedoria.
Sua narrativa ilustra que nem todas as afrontas precisam necessariamente virar
mágoas, e que uma história sobre a mágoa não se torna inevitável só porque
estamos dolorosamente feridos. Depois de
ler a história desta mulher, você verá como a ajuda de pessoas próximas pode
levá-lo a se tornar herói em vez de vítima.
Quando
andava de bicicleta numa tranqüila rua secundária de uma cidadezinha, Frida foi
atingida por um carro. Era uma ciclista experiente e estava andando no lado
correto da via, sua sinalização era adequada e usava um capacete. Frida não estava
correndo e era cuidadosa. Nada disso a protegeu quando um motorista apressado
fez uma manobra desastrada e a atropelou. Ela foi atingida em cheio, o carro
lançou-a ao ar; o motorista fugiu. Frida ficou bastante machucada e passou duas
semanas no hospital com a pélvis esmagada e uma séria concussão. Depois de
receber alta, teve de ficar seis meses em casa em recuperação
A pélvis de Frida nunca ficou totalmente boa, ela sofria de
dores de cabeça crônicas e precisou usar uma bengala durante cinco anos após o
acidente. Nunca descobriu o motorista que a atropelou. Frida teve de pedir
demissão, e seu marido precisou trocar de emprego para ganhar mais. Ela, porém,
sobreviveu ao acidente, à perda do emprego, ao ato fortuito de violência e
continua a suportar sua dor crônica. Conseguiu
tudo isso porque se tornou uma pessoa cujo sofrimento fez desenvolver compaixão
pela dor dos outros. Além de um novo emprego em período integral, ela atua
com regularidade como voluntária em uma clínica de combate à dor, ajudando outras
pessoas a lidarem com seus ferimentos.
Em vez de se lamentar, Frida fala com gratidão sobre a ajuda
que recebeu do marido e da família. Frida está grata porque lhe demonstraram
amor, e não pena. Frida elogia seu marido por tê-la estimulado a voltar à
escola quando ainda estava em recuperação. Tem palavras amáveis para seu pai,
que lhe pediu para conversar com outras pessoas que superaram problemas
similares. Lembra-0se do seu pai dizendo: “Embora não possa mudar o passado,
você é a única que pode construir seu futuro”. Embora contrariada em relação à
sua dor, Frida admite que é uma pessoa muito melhor hoje devido ao que passou.
Podemos perdoar aqueles que nos fizeram sofrer e tocar adiante
nossas vidas; podemos nos perdoar por ficarmos paralisados e magoados. Podemos
perdoar nossos pais se eles nos fizeram sofrer e nossos amigos e família se não
nos apoiaram. Podemos criar uma história que nos mostre como heróis e não como
vítimas.
Assim, devemos começar o processo de criação de uma nova
história sempre tomando cuidado sobre o que falamos a respeito das coisas
dolorosas não resolvidas que nos aconteceram. Quando você se pegar falando
sobre um sofrimento passado, verifique se não está contando uma história sobre
a mágoa. Nesse caso, faça uma pausa e respire fundo. Sua história sobre a
mágoa, que parece tão confortante e familiar, é sua inimiga. Essa história
sobre a mágoa, mais do que fazê-lo sofrer, o está aprisionando. A história o
mantém preso no passado, perturba seus amigos e família, e lembra a você e aos
outros que você é a vítima. Logo que modificamos a história sobre a mágoa,
estamos no caminho da cura.
Cada um escolhe o tipo de história que deseja contar.
Lembre-se: podemos perdoar e tocar adiante nossas vidas ou ficar amarrados a
coisas sobre as quais não temos controle.
AS EXPECTATIVAS IRREALIZÁVEIS
Descrevi as três etapas necessárias para a formação de uma
mágoa: assumir algo em termos muito pessoais, fazer o jogo da culpa e criar uma
história sobre a mágoa. Porém, uma questão persiste: por que algumas situações
transformam-se em mágoas e outras não? Não se cria uma mágoa todas as vezes que
não se consegue o que se quer. Existem algum fator que determina o motivo pelo
qual em uma determinada situação cria-se uma mágoa? Sim. Antes que uma mágoa seja
formada, reage-se a uma situação dolorosa de uma certa maneira.
Essa maneira inadequada de agir chama-se “expectativa
irrealizável”, a qual é a base do processo relacionado à mágoa.
O sistema de pensamento que leva à formação de uma mágoa
envolve o processo de tentar impor ao mundo concreto uma expectativa
irrealizável.
Imagine um policial rodoviário cuja missão seja patrulhar um
movimentado trecho de uma estrada federal. Sentado dentro do seu carro, parado
no acostamento, o policial vê uma Mercedes passar a 140 quilômetros por hora.
Ele começa a lavrar a multa e tenta ligar seu carro. O motor, porém, não
responde. Incapaz de sair do lugar, o policial logo vê outro carro acima da
velocidade permitida. Em seguida, outro. Sem saber o que fazer, primeiro fica
curioso e depois sente-se impotente.
Ele diante do apuro de
Ter de impor expectativas irrealizáveis sem poder fazer. O que ele faz com
elas? O policial está impotente e impedido de agir.
A questão que o policial se coloca é parecida com a que você
lida toda vez que uma das suas expectativas é contrariada. A questão que você
enfrenta é: “Será que continuo a lavrar multas que não servem para nada?” Como
o policial, você muitas vezes enfrenta situações nas quais tem de imaginar o
que fazer quando não se tem controle sobre a situação.
Muitas vezes, ao tentar impor expectativas irrealizáveis,
escrevemos multas mentais para “punir” aquele que agiu indevidamente.
Infelizmente, se a expectativa é irrealizável, a única pessoa que acaba
sofrendo com a multa é você mesmo. Entupimos a mente com essas multas. Ficamos
frustrados porque as coisas não andam do jeito que queríamos. Ficamos zangados
porque algo inconveniente está acontecendo. Ficamos impotentes porque não
conseguimos fazer as coisas de modo adequado.
Estou convencido de que
quando você tenta impor algo sobre o qual não tem controle, você cria um
problema para si.
Temos tanta chance de impor expectativas irrealizáveis quanto
de tirar leite das pedras. Tentar
mudar o que não pode ser mudado ou tentar influenciar aqueles que não querem
ser influenciados redundará em fracasso, e causará esgotamento emocional.
Em grande medida, as
expectativas relativas ao comportamento das pessoas e ao nosso próprio
comportamento determinam como nos sentimos. Por quê? Porque certas expectativas
são realizáveis e outras não. Quando você possui muitas expectativas
irrealizáveis, ou quando você tenta, com grande dificuldade, impor aquelas que
tem, cria um problema. Se você tentar impor apenas aquelas coisas que consegue
controlar, provavelmente sua vida correrá bem.
Quando falo para meu filho de dois anos ficar fora do meu
quarto, posso instalar uma barreira para impedir sua entrada. Normalmente,
posso fazer meu filho de dois anos ficar onde eu quiser. Sou capaz de impor
minha expectativa para manter meu filho fora do quarto.
Se você fixar uma expectativa determinando que seu filho de
18n anos sempre deve voltar com seu carro até às dez da noite, será um sério
candidato à frustração. Seu filho pode se atrasar por diversos motivos. Pode
estar atrasado porque há muito trânsito, pode decidir sair com os amigos. Ele
pode não lembrar do horário que deve voltar para casa. Pode não ligar para o
que você pensa. Você pode controlar fisicamente seu filho de dois anos, mas não
pode controlar seu filho de dezoito anos do mesmo modo. A diferença é que o
filho de dezoito anos tem a escolha da obedecê-lo ou não.
Estamos tentando impor uma
expectativa irrealizável quando culpamos alguém por como estamos nos sentindo.
Tentamos impor uma expectativa irrealizável quando assumimos o comportamento de
alguém em termos muito pessoais. Ao formarmos uma mágoa, houve pelo menos uma
expectativa irrealizável. Sempre
que nos sentimos muito transtornados em relação a alguma coisa, na origem está
a tentativa de impor uma expectativa irrealizável. De fato, sentir-se irado,
impotente ou deprimido é indicação de que estamos tentando impor uma
expectativa irrealizável.
Sabemos que estamos tentando impor uma expectativa
irrealizável se alguma coisa – exceto uma perda ou doença grave muito recente –
nos causa muita angústia emocional. Se encaramos a morte recente de um ente
querido, a perda da casa ou a notícia de uma doença grave, será natural nos
sentirmos dominados pela dor e não conseguirmos pensar com clareza. Entretanto,
após um curto período de tempo, vamos Ter de enfrentar o problema de tentar
impor uma regra que não podemos pôr em vigor.
Ninguém tem o controle sobre
a saúde ou a vida e morte da pessoa que ama. Falando sem cerimônia: quando
ocorre um fato desagradável, temos a opção de aceitá-lo ou não. Não aceitamos o
que nos acontece porque nos apegamos a expectativas irrealizáveis.
Todos nós temos expectativas a respeito do modo como algo
deveria ser ou de modo alguém deveria pensar ou se comportar. Todos fixamos expectativas
e regras de como devemos agir e pensar, de como as outras pessoas devem agir e
pensar, de como a vida deveria ser.
A expectativa irrealizável abarca aquela que você não pode
concretizar. Pode ser a expectativa de que seus pais o tratem tão bem quanto
tratam seu irmão ou a expectativa de que você ganhe na loteria. Pode ser a
expectativa de que você ganhe uma corrida ou que obtenha um aumento. Pode ser
por tempo bom ou por uma fila pequena no supermercado. Podemos Ter infinitas
expectativas, embora não disponhamos do poder para fazer com que aconteçam.
A expectativa irrealizável é
aquela em que você não tem o controle de ser factível ou não. A expectativa
irrealizável é aquela em que você não tem o poder de fazer as coisas
acontecerem do modo que deseja. Ao
tentar impor uma das suas expectativas irrealizáveis, você fica irado,
amargurado, desanimado e impotente. Tentar
impor algo que você não pode controlar é um exercício de frustração. Forçar a
esposa a amá-lo, um sócio a ser honesto, os pais a tratarem cada filho com
imparcialidade é uma missão irrealizável.
Qualquer um ficaria frustrado se olhasse uma pedra esperando
que leite saísse dela. Quando o filho adolescente se atrasa, a maioria dos pais
sente raiva e frustração enquanto escuta o tique-taque do relógio. Toda vez que
tentamos impor uma expectativa irrealizável, frustração e impotência se
manifestam.
Beto bebia muito e era usuário de drogas. Sua esposa Angélica
sofria muito com isso, pois freqüentemente ele se ausentava de casa por longos
períodos ou chegava tarde em casa. Procure imaginar como Angélica ficava
frustrada e irada toda vez que Beto ficava fora de casa até tarde. Imagine
quantas multas ela deve Ter lavrado e armazenado em sua mente.
Quanto maior seu número de expectativas irrealizáveis, maior a
probabilidade de que você se sinta perturbado e desapontado. Quanto mais
intensamente você tentar impor algo que não pode controlar, pior vai se sentir.
Se você se apegar a uma expectativa irrealizável, ficará propenso a sofrer cada
vez que ela for quebrada. Toda vez que Beto se atrasava, Angélica se
transtornava. Transtornava-se porque ele estava fora de casa bebendo, porque
estava sozinha. Além disso, Angélica se transtornava porque Beto não a
obedecia. Beto não fazia o que ela sentia que ele deveria fazer.
Como conseqüência, Angélica lavrou uma grande quantidade de
multas. Beto estava violando expectativas a torto e a direito. Ele frustrou
tantas expectativas que Angélica perdeu o rumo. O problema era que Beto não
levava as expectativas e pedidos de Angélica a sério, não ligava se Angélica
lavrava multas durante todo o dia. As multas começaram a encher totalmente a
mente de Angélica, impedindo outros pensamentos.
Certa parte da frustração de
Angélica era uma reação legítima à indiferença e ao comportamento destrutivo de
Beto. Como veremos no
próximo capítulo, para perdoar é importante sabermos que tipo de comportamentos
não aprovamos e quais limites não devem ser ultrapassados. Porém, outro aspecto do sofrimento envolvia a insistência de Angélica
para que Beto se comportasse de determinado modo; mas ela não tinha o poder de
fazê-lo comportar-se desse modo. Angélica era incapaz de impedi-lo de
consumir drogas em excesso, não tinha o poder de fazê-lo voltar para casa à
noite. Ela não conseguia forçá-lo a chegar no horário ao trabalho, e era
incapaz de fazer com que ele a amasse. Contudo,
em vez de aceitar a falta de confiabilidade de Beto, Angélica buscava manter
sua ilusão de controle. Desse modo, cada vez que Beto violava suas expectativas
irrealizáveis, Angélica ficava furiosa. Ela nunca pensou em analisar suas
expectativas relativas a Beto para ver se eram realistas.
O seu comportamento em relação a Beto a fazia assumir o
comportamento dele em termos muito pessoais e culpá-lo por suas diversas
dificuldades. Angélica achava que seu marido estava errado por consumir drogas
em excesso. Achava que Beto deveria voltar para casa à noite. Angélica achava
que Beto deveria chegar no horário para o trabalho. Ela achava que Beto deveria
amá-la. Angélica criou muitas expectativas, que Beto violava com freqüência, e
ela lavrava multas aos montes. As expectativas irrealizáveis que tentava impor
a fizeram sofrer ainda mais.
A tentativa de impor expectativas irrealizáveis leva a pessoa
a sentir-se desamparada, irada e sem poder. O ato de lavrar multas não é
sinônimo de tomar uma ação construtiva. Você lavra multas quando não pode
imaginar a ação construtiva a ser tomada.
A esta altura, convém fazer uma distinção pertinente. A maioria das pessoas confunde fatos inesperados
com fatos indesejados. Freqüentemente, se não se quer algo, espera-se que
não aconteça, mas são duas coisas diferentes. Por exemplo, se alguém bater na
sua porta às três da madrugava, você provavelmente ficará preocupado. De modo
irritado ou hesitante você pergunta quem é. Se a voz disser que se trata de um
ahceque de 200.000 reais em seu nome, esse anúncio será inesperado, mas
totalmente desejado. Provavelmente você não ficará transtornado por receber um
cheque de valor tão alto.
Porém, se quem estiver batendo na sua porta vier cobrar alguma
coisa, então o acontecimento poderá ser tanto inesperado como indesejado.
Para Angélica, o problema do seu marido ligado ao consumo
abusivo de drogas era tanto inesperado quanto indesejado. Quando Angélica casou
com Beto, ela não tinha nenhum plano contingente em relação ao vício latente
dele. De certo modo, ela não foi realista. Embora Angélica não quisesse um
marido alcoólatra, isso poderia acontecer; muitas pessoas tem cônjuges
alcoólatras. Inicialmente, o alcoolismo de Beto foi tanto inesperado como
indesejado. Conforme o tempo passava e Beto se apresentava com freqüência sob
efeito de bebidas alcoólicas, o consumop abusivo do álcool tornou-se esperado,
mas indesejado. Porém, as expectativas irrealizáveis de Angélica obscureceram
sua capacidade de julgamento e dificultaram sua reação diiante do que se tornou
um comportamento esperado, mas indesejado.
Grande parte do sofrimento de Angélica surgiu porque ela não
pode aceitar a realidade, Provavelmente vivia com um marido que mais a
desapontava do que a satisfazia. Em vez de agir de modo construtivo, tentou
impor expectativas irrealizáveis. Lavrou toneladas de multas e sofreu porque
não compreendeu a letalidade de suas regras irrealizáveis. Sustentou que sua expectativa
estava correta e seu marido errado. Ela não percebeu que ninguém se deixa
persuadir quando está se tentando impor uma expectativa irrealizável.
Na base de toda mágoa está a realidade de que a vítima da
afronta tinha uma expectativa irrealizável que não foi seguida. A expectativa
pode ser tão genérica quanto “Eu não deveria sofrer”, “As pessoas deveriam ser
amáveis comigo” ou “Eu tenho de ser amada”. Ou pode assumir a forma de regras
específicas de conduta como “Meu namorado deveria ter limpado o banheiro
exatamente como eu falei para ele”. Em cada caso, a exigência de uma adesão a
regras que não podem ser cumpridas está na base do processo relacionado à
mágoa.
Quando você diz que alguém que ama deve retribuir esse amor,
está criando uma expectativa irrealizável. Só porque você ama aquela pessoa,
ela tem de amá-lo? Ao dizer ao seu marido que, em vez de beber, ele deve voltar
para casa à noite, você está criando uma expectativa irrealizável. Só porque
você quer que seu marido permaneça sóbrio não significa que ele queira a mesma
coisa. Ao dizer que sua família deveria ser sensível quando você passa por um
sofrimento, você está criando uma expectativa irrealizável. Só porque quer
atenção, não significa que sua família terá de dá-la quando você quiser. Nas
suas férias, quando deseja as melhores condições meteorológicas possíveis, está
criando uma expectativa irrealizável. Só porque você deseja tempo bom, não
significa que isso acontecerá.
A primeira etapa na
elucidação das expectativas irrealizáveis envolve identificá-las. Depois de
perceber que criou expectativas irrealizáveis, você tomou a primeira medida
para se ajudar. Ao fazer isso, recuperou parte do poder que concedeu à outra
pessoa que o fez sofrer. Como próxima medida, você pode estabelecer regras que
lhe trarão mais paz de espírito e permitirão um maior controle sobre suas
emoções. Depois de alcançar paz de espírito e controle, a capacidade de
julgamento e o processo de tomada de decisão melhorarão.
Algumas vezes temos de
solucionar uma situação difícil. Como exemplo: viver com um cônjuge alcoólatra
é muitas vezes uma experiência perturbadora. A simples elaboração de melhores
expectativas não solucionará o problema. Temos de imaginar o que fazer para nos
proteger e talvez também nossos filhos. Para fazer isso, precisamos Ter um
entendimento a nosso respeito. Quando a mente está cheia de raiva impotente,
porque as expectativas não estão sendo seguidas, temos menos energia disponível
para pensar em opções.
Lembre-se que em quase todas as circunstâncias em que sente um
sofrimento emocional importante, você está tentando impor uma expectativa
irrealizável. Mas há esperança. Todos podemos aprender a mudar as expectativas.
Podemos recuperar o poder. Podemos aprender a perdoar.
O QUE É O PERDÃO?
O perdão é uma
opção. Nem você, nem eu temos d perdoar alguém que nos fez sofrer. Por outro
lado, podemos perdoar todos que nos tenham ferido. A decisão é nossa. O perdão
não acontece por acaso. Temos de tomar a decisão de perdoar. Não vamos perdoar
apenas porque achamos que devemos. O perdão não pode ser forçado. Ao escolher o
perdão, renunciamos ao passado para
curar o presente.
Inúmeras vezes, constatei que muitas
pessoas, ao se magoarem, esquecem que podem reagir de diversos modos. Algumas
vezes ficam iradas e continuam iradas. Às vezes, ficam magoadas e permanecem
magoadas; outras, simplesmente desconsideram o problema.
Só porque fomos maltratados não temos
de criar uma mágoa. Uma mágoa não é inevitável só por causa de uma ferida
profunda. Uma mágoa se forma quando você reage a situações dolorosas de um
determinado modo.
Quando percebemos nosso papel no
processo relacionado à mágoa, podemos então decidir desempenhar o papel
principal no processo relacionado à cura. O
modo de cura mais poderoso é pelo do perdão. Quando perdoamos, assumimos algo em termos menos pessoais, culpamos
menos a pessoa que nos fez sofrer e mudamos a história sobre a mágoa. Por
meio do aprendizado do processo do perdão, podemos perdoar qualquer pessoa que
nos fez sofrer.
Mas antes de seguir adiante, precisamos
aclarar as três precondições necessárias antes de estarmos prontos a perdoar.
Essas três precondições são simples: a) saber
como você se sente a respeito do que aconteceu; b) ter certeza sobre a ação que o fez sofrer; c) partilhar sua experiência com uma ou duas pessoas de confiança, pelo
menos.
Se você não reuniu essas precondições,
o perdão terá de esperar. Não precisa Ter pressa para perdoar. Quando estiver
pronto, o perdão será mais fácil e profundo.
a) A primeira precondição diz respeito a você
ser capaz de descrever como se sente. Isso não significa que os sentimentos
sejam simples ou estejam sempre claros. Seus sentimentos podem variar dia a dia
e ir e vir. Mas nomear os sentimentos traz benefícios. O ato de nomeá-los combate
a tendência de negar ou minimizar como nos sentimos. É muito fácil e comum
negar a intensidade dos sentimentos como uma maneira de proteger-nos da dor.
Algumas vezes, passamos momentos difíceis ao admitir que coisas ruins realmente
aconteceram e que essas coisas nos magoaram. Podemos negar a intensidade dos
sentimentos para mantermos relacionamentos problemáticos. Reconhecer como você
se sente é o primeiro passo na luta contra a tendência de manter
relacionamentos abusivos e dolorosos. De qualquer maneira, você não está pronto
para perdoar até que o modo como você se sente não esteja claro.
b) É muito importante saber exatamente o que
foi inaceitável em uma determinada situação. Isso significa que você deve
tentar lembrar dos detalhes tão bem quanto possível. Você tem de saber o que
representou um comportamento inaceitável na situação vivida e ser capaz de
expor em linguagem clara o que não foi correto. Como você pode saber o que
evitar no futuro se não tiver certeza a respeito dos seus limites? Ao aclarar o
que lhe causa sofrimento, provavelmente serão menores as chances da situação
danosa se repetir.
c) O relato do que aconteceu para algumas
pessoas de confiança é a terceira precondição para o perdão. Isso significa
contar como você se sente e o que não foi correto na situação que o fez sofrer.
Partilhar a dor com algumas pessoas de confiança ajuda a enfrentar a situação;
permite que você ponha os sentimentos em palavras, tornando-os mais claros.
Partilhar a dor possibilita que outras pessoas se preocupem com você e
proporciona-lhe orientação e apoio. Ajuda na ligação com a universalidade do
sofrimento e permite que você se sinta menos sozinho. Ao partilhar sua história
com poucas pessoas, você está em busca de apoio e orientação. Ao partilhar sua
história com um número maior de pessoas, muitas vezes você faz isso para
denunciar o autor da afronta, para dar um gripo de dor ou para fazer outras
pessoas saberem como você se tornou uma vítima. Essas razões são diferentes da
busca por apoio e orientação, e são, muitas vezes, um simples recontar da sua
história sobre a mágoa. Se você não conseguir encontrar amigos ou familiares de
confiança, sugiro um terapeuta ou um grupo de apoio. Se isso também não for
possível, poderá escrever sua experiência e depois revisá-la. Pode também
partilhar anonimamente o que escreveu em chats na internet. Devo fazer uma
advertência: não partilhe sua dor com pessoas que podem fazê-lo sofrer ou levar
vantagem a partir da sua confidência. Você também não tem de partilhar sua dor
com a pessoa que o fez sofrer, pois essa pessoa não é adequada. Depois de Ter
partilhado sua dor com algumas pessoas de confiança, você pode avançar para a
próxima etapa e aprender a perdoar. Você já sabe como se sente, já sabe o que
está errado e já partilhou sua dor.
O QUE É O PERDÃO
O principal obstáculo para o perdão é justamente a falta de
entendimento a respeito do que é o perdão. Algumas pessoas
confundem perdão com uma ação grosseira de indulgência. Outras acham que o
perdão existe para restabelecer o relacionamento com o autor da afronta.
Algumas ficam receosas de perdoar porque acham que não serão capazes de buscar
justiça. Outras acham que o perdão deve ser um precursor da reconciliação.
Algumas pessoas acham que o perdão significa esquecer o que aconteceu; outras
acham que serão capazes de perdoar porque sua religião diz que se deve perdoar.
Todas essas concepções estão equivocadas.
O perdão é a sensação de paz que emerge quando você assume seu
sofrimento em termos menos pessoais, assume a responsabilidade de como se sente
e torna-se um herói e não uma vítima na história que relata. O perdão é a
experiência da serenidade no momento presente; não muda o passado, mas modifica
o tempo atual. O perdão significa que, embora ferido, você opta por se magoar e
sofrer menos. O perdão significa que você se torna parte da solução. É a
compreensão de que o sofrimento é parte normal da vida. O perdão é para você e
para ninguém mais. Você pode perdoar e reatar um
relacionamento, ou perdoar e nunca mais voltar a falar com a pessoa.
O benefício mais importante do perdão é a
firmação de que não somos vítimas do passado. Evidentemente, o passado
influencia o presente. Para o resto da sua vida, Maria sentirá a influência de
ter convivido com uma mãe fria e distante durante a infância. Ela não pode mudar o passado. Não pode fazer
o tempo voltar. Porém, Maria pode aprender novos modos de viver no presente ao
perdoar sua mãe.
Algumas
pessoas crescem em famílias que lhes ensinam coisas quando crianças que
consideram difíceis de esquecer quando adultas. Infelizmente, algumas das
coisas que os pais ensinam para seus filhos são prejudiciais.
As
pessoas que tiveram pais abusivos aprenderam que o mundo nem sempre é um lugar
seguro. Você pode perdoar seus pais e criar um ambiente novo e um lugar seguro.
Depois de perdoar, alcança-se a tranqüilidade para dizer com segurança que
aquilo que seus pais ensinaram estava completamente errado. Estando tranqüilo,
você pode traçar o melhor curso para sua vida. O perdão é o início de um novo capítulo
e não o espílogo de uma história. Muitas pessoas têm como fim o reconhecimento
do erro e perdem a chance de perdoar e crescer.
O passado de nenhuma pessoa tem de ser uma
sentença de prisão. Não podemos mudar o passado; assim, devemos encontrar uma maneira
de resolver as lembranças dolorosas. O perdão fornece a chave para reconhecer o
passado e seguir adiante. Quando conseguimos perdoar, temos menos a temer.
Por exemplo, Angélica sentia pavor de começar outra relação amorosa depois da
experiência desastrosa com seu marido alcoólatra. Nos encontros, Angélica
sentia-se acanhada e cautelosa porque Beto vinha com ela, ficando
metaforicamente escondido no assento traseiro do carro. Depois de finalmente
perdoá-lo, Angélica soube no ato que se tornara uma mulher mais poderosa.
Começou a namorar com seriedade, sem desespero.
Depois
de perdoar Beto, Angélica sabia que nunca mais deixaria outro homem tratá-la da
maneira como ele a tratou. Sabia que se voltasse a ficar magoada, conseguiria
se recuperar. Ela aprendeu a habilidade do perdão e sabia que poderia usá-la
sempre que necessário. Quando provamos a nós mesmos que podemos sobreviver a
uma situação dolorosa, também compreendemos que podemos sobreviver a outra
situação similar. Assim, ao perdoar, nossa auto-estima se desenvolve. Ficamos
mais fortes e aprendemos o que é bom e o que não é bom para nós.
Depois
de perdoá-lo, Angélica não esqueceu como Beto a tratou. Ela tinha lembranças
não como vítima, mas sim como sobrevivente. Angélica não desculpou a indelicadeza
de Beto, nem seus problemas relativos ao consumo abusivo de drogas. Sabia que o
tratamento que Beto deu a ela e ao filho deles foi injusto. Angélica não lhe
deu mais muito espaço em sua mente, e provou para si que Beto não era
responsável pela vivência emocional dela.
Angélica
aprendeu que poderia viver sem um homem. Aprendeu a ser mais assertiva, a
confiar em si. Além disso, Angélica não alimentou mais fantasias de
reconciliar-se com Beto. Quanto a ela, o filme tinha acabado e estava contente
por estar fora do cinema.
O segundo benefício a respeito do
aprendizado do perdão envolve a ajuda que se pode oferecer aos outros. Você
não tem idéia do poder que um exemplo de perdão pode proporcionar. Se olhar ao
redor, verá os amigos, família e conhecidos cheios de sofrimento, tristeza e
raiva. Você pode ajudar muitas pessoas com o exemplo de como você superou a
adversidade e a dor.
O perdão é um ato que denota força. Você
só pode perdoar a partir da força quando já conhece seus sentimentos, já os
nomeou e partilhou. Você só pode perdoar a partir da força quando perceber
claramente que está ferido e que não se envergonha disso. Sua força pode servir
de exemplo aos outros.
O terceiro benefício que o perdão traz
emerge quando você dá mais amor e atenção às pessoas importantes da sua vida. Da
minha própria experiência, e da experiência de muitas outras pessoas, sei que o
sofrimento do passado muitas vezes faz com que você se afaste e suspeite da
pessoa que está procurando gostar de você. Freqüentemente,
a pessoa que sofre por causa da sua mágoa não é quem o fez sofrer, mas a pessoa
preocupada com você hoje em dia.
Se alugamos
muito espaço para o que deu errado, onde fica o espaço para apreciarmos as
coisas boas da nossa vida? Se concentrarmos a atenção nos antigos reveses, como
podemos dar plena atenção e amor aos amigos, colegas de trabalho e outras
pessoas importantes para nós? Se permanecermos amargurados em relação às velhas
crueldades dos pais, quem terá de sofrer: nossos pais ou nossos amigos e entes
queridos atuais?
Iran foi criado num lar
desordenado, cheio de raiva e amargura. Quando ele transfere esse legado para
suas amizades e relações amorosas, quem colhe as conseqüências? Se Iran
sente-se irado em relação aos seus pais por causa do lar desequilibrado e
torna-se uma pessoa de pavio curto, quem tem de suportá-lo: seus pais ou sua
atual parceira?
Depois
que Iran aprendeu a perdoar, percebeu que as pessoas que rechaçava eram as que
se preocupavam com ele. Quando começou a perdoar seus pais por causa do lar
desequilibrado, conseguiu perceber mais claramente o dano que sua raiva causou
aos seus relacionamentos atuais. Por meio do perdão, obteve mais tempo e
energia para envolver-se e apreciar seus amigos e entes queridos.
O
QUE O PERDÃO NÃO É
O perdão não significa
achar que o que aconteceu estava certo. O
perdão não significa fechar os olhos à conduta grosseira, desatenciosa ou
interesseira de alguém que o fez sofrer. Taumaturgo estava certo ao
condenar a infidelidade de sua esposa. Ela agiu com crueldade e descumpriu o
juramento matrimonial. Mentiu e o envolveu em dificuldades. Para Taumaturgo, o
reconhecimento de seus sentimentos era necessário e saudável. O problema de
Taumaturgo era que ele confessava sua dor com freqüência. Escutá-lo era como ouvir
um velho disco arranhado, que tocava sempre a mesma nota. A música que
Taumaturgo tocava sem parar não era nada atraente.
Raiva e sofrimento são
reações pertinentes aos acontecimentos dolorosos. Quando os limites são
ultrapassados, devemos saber como dizer não. Não temos de virar um capacho para
perdoar. Perdão também não significa que
seja correto que a pessoa nos trate com grosseria. O perdão é a decisão que
nos livra da afronta e culpa que nos paralisou num ciclo de sofrimento. Embora
raiva e sofrimento sejam válidos, ao contrário do vinho, eles não melhoram com
o passar dos anos.
Perdão não é sinônimo de esquecimento.
Você não quer esquecer o que aconteceu. Na realidade, quer se lembrar. Em
primeiro lugar, lembra-se para garantir que alguma coisa ruim não voltará a
acontecer. Lembra-se do sofrimento do ponto de vista da cura e não do da
vitimização impotente, e não precisa discorrer longamente sobre o que aconteceu
ou inchar-se de orgulho porque perdoou. Deve-se reconhecer a coragem e
perseverança que o levaram a superar as feridas do passado.
Finalmente, você tem a
oportunidade de usar as lembranças que cicatrizaram para oferecer compaixão e
apoio aos necessitados. Quando perdoa, você se torna um modelo para as pessoas
que ainda estão na luta. Elas se favorecem ao ver pessoas que se curaram. Você
pode servir de exemplo do que é possível. Com seu exemplo, mostra às pessoas
que o perdão é possível.
Perdão e reconciliação não são a mesma coisa. Reconciliação
é restabelecer uma relação com a pessoa que o fez sofrer. Perdão significa
reconciliar-se com uma parte penosa do passado e não culpar mais o autor da
afronta por suas experiências. Você pode perdoar e decidir que não há razão
alguma para ter qualquer outra relação com a pessoa que o fez sofrer. Na realidade,
sempre que você perdoa alguém que está morto, faz isso. Sempre que perdoa
alguém que conheceu apenas por um momento curto e doloroso (como a vítima de um
atropelamento em que o motorista fugiu), você faz isso. Por meio do perdão, você tem uma opção. Você
pode perdoar e dar ao autor da afronta uma nova oportunidade, ou pode perdoar e
assumir novas relações. A opção é sua.
Do mesmo modo, perdão não significa desistir do pleito por
justiça ou indenização. Certa vez trabalhei com um homem que foi
atropelado por um motorista que fugiu. Ele insistia que não poderia perdoar,
pois isso significava que não conseguiria dar seqüência à sua ação judicial. Eu
disse a ele que desse seguimento ao processo legal se essa fosse sua escolha.
Disse que o perdão era para seu bem-estar emocional e físico: sua mente ficaria
mais lúcida e suas decisões ficariam mais confiáveis. Disse para ele perdoar,
para que ele fosse a vítima do motorista durante o menor tempo possível. Também
sabia que o processo criminal e a indenização financeira não preencheriam a
necessidade que ele tinha pela cura emocional. Ele precisava vencer tanto no
tribunal quanto na vida; tanto vencer uma ação judicial, quanto recuperar sua
afeição. Pedi-lhe para estabelecer um plano provido de dois eixos. O primeiro
eixo destinava-se à sua cura emocional e envolvia o aprendizado do perdão. O
segundo eixo, para tentar garantir que o autor do atropelamento fosse punido.
As duas abordagens dele eram complementares, mas não similares.
Em suma:
* Perdão é a paz que você aprende a sentir quando permite o pouso dos aviões que estão voando em círculos.
·
Perdão é para você e não para o autor da
afronta.
·
Perdão é recuperar seu poder.
·
Perdão é assumir a responsabilidade por
como você se sente.
·
Perdão refere-se à sua cura e não à pessoa
que o fez sofrer.
·
Perdão é uma habilidade que exige
treinamento, igual jogar futebol.
·
Perdão o ajuda a ter mais controle sobre
seus sentimentos.
·
Perdão pode melhorar sua saúde física e
mental.
·
Perdão envolve se tornar o herói e não a
vítima.
·
Perdão é uma escolha.
·
Todos podem aprender a perdoar.
O
QUE O PERDÃO NÃO É:
·
Perdão não é fechar os olhos para a falta
de amabilidade.
·
Perdão não é esquecer que algo doloroso
aconteceu.
·
Perdão não é desculpar o mau comportamento.
·
Perdão não precisa ser uma experiência
religiosa ou sobrenatural.
·
Perdão não é negar ou minimizar seu
sofrimento.
·
Perdão não significa se reconciliar com o
autor da afronta.
·
Perdão não significa desistir de ter
sentimentos.
AS TÉCNICAS PARA
A CURA PELO PERDÃO: MUDANÇA DE CANAL, RESPIRAÇÃO DE AGRADECIMENTO, FOCO NO
CORAÇÃO E PERT.
“Um homem sábio se apressará
a perdoar, pois sabe o verdadeiro valor
do tempo, e não sofrerá por
se livrar de uma aflição desnecessária.”
SAMUEL JOHNSON
Já vimos como as
mágoas se formam e o que é o perdão. Agora é o momento de curar suas mágoas. Já
sublinhei as três precondições para o perdão: saber como você se sente, saber o
que está errado e falar para algumas pessoas de confiança o que aconteceu. Se
você cumpriu essas etapas, você está pronto para aprender a perdoar.
OBSTÁCULOS
CONTRA O PERDÃO
Inicialmente,
vamos apresentar alguns obstáculos contra o perdão. O primeiro é a tendência de
confundir uma afronta imperdoável com a incapacidade para perdoar. Constatei
que essa idéia equivocada dificulta a capacidade de perdão das pessoas, e sei
que, ao esclarecer isso, estarei ajudando vocês. Com freqüência, conheço pessoas que confundem a falta de
motivação para perdoar com a idéia de que uma determinada afronta é imperdoável.
Mesmo depois de terem satisfeito diversas vezes as precondições, essas pessoas
têm dificuldade de renunciar às suas mágoas. Elas resistem à idéia de perdoar e
discutem sobre se a afronta é perdoável.
Markus, quando eu escrevi as três
precondições no quadro-negro afirmando que estávamos prontos para começar a
perdoar, afirmou que elas não eram suficientes para ele perdoar. Foi muito
injusto o que tinha acontecido a ele, pois prometeram-lhe um cargo de
webdesigner e Markus teve de assumir a função de redator técnico. Não seria errado
perdoar pessoas que haviam mentido para ele? Como alguém pode perdoar tais
embusteiros?
Pedi para Markus imaginar que vinte
milhões de reais tivessem sido depositados em uma conta corrente de um banco
suíço em seu nome. O dinheiro era seu, com uma condição: que ele concordasse a
não voltar a pensar com tanto rigor sobre sua mágoa. Ele também tinha de imaginar que os
banqueiros possuíam um detector que saberia se ele ainda conservava pensamentos
negativos sobre seus chefes. Perguntei-lhe se, nesse cenário, ele tiraria a
mágoa da mente. Markus respondeu: “É claro que sim. Minha mãe não deu à luz a
um idiota. Só um tolo abriria mão de vinte milhões de reais”. Asim, desse para
Markus: “Na realidade, estamos falando sobre sua motivação para perdoar, e não se
seus chefes devem ou podem ser perdoados. É óbvio que não há nenhum problema em
perdoar seus chefes; você só não queria tomar essa atitude até Ter uma boa
razão”. E conclui: “Parece-me que você perdoaria seus chefes se a recompensa
fosse boa. Não é verdade?” Ele aparentou embaraço e afirmou: “Sim, acho que
sim”. Markus aprendeu que não foi a
falsidade que o impediu de perdoar, mas o fato de ele ter ou não uma boa razão
para isso.
Na verdade, nós estamos mais preparados
para perdoar do que imaginamos. Os obstáculos
principais não são as afrontas em si, mas a falta de ferramentas com as quais
trabalhar. Imaginamos o caráter da afronta imperdoável. Porém, se qualquer
um de nós olhar ao redor, encontrará pessoas que perdoaram a mesma afronta.
Deve-se lembrar que trabalhei com pessoas que realizaram um expressivo
progresso para perdoar a violência gratuita. A falta da afronta é imperdoável
para todos. Prestando atenção, você sempre encontrará alguém que perdoou uma
situação similar.
Se você colocar-se no lugar de Markus,
notará que a hesitação relativa ao perdão é, basicamente, uma questão de
motivação. Você não se sente motivado porque sem alguma razão instigante, como
riqueza ou a ameaça de morte, não sabe como se sentiria depois de perdoar. Você
se pergunta se o esforço valerá a pena. Devido à falta de instrumentos para
perdoar, o esforço poderá ser esmagador. Este texto lhe dá os instrumentos para
perdoar. No entanto, você tem de fazer um esforço.
A
motivação do uso das técnicas envolve, principalmente, a recuperação do poder
que você deu ao passado para arruinar seu presente. Com freqüência,
esquecemos que o perdão é para nós, e
não para o autor da afronta. De modo algum o perdão fecha os olhos à crueldade
ou ao tratamento pouco amável. O perdão devolve-nos a paz de espírito.
O PERDÃO É
NÃO-TEÓRICO
Desejo que todos aprendam a perdoar. Minha definição sobre o perdão
centraliza-se no benefício da sensação de serenidade, e revelo as etapas de
como uma mágoa se forma. Encontrar paz de espírito não tem de ser complicado.
Lembre-se que toda mágoa começa quando
acontece algo na vida de uma pessoa que ela não quis. Desse dissabor inicial, a
pessoa assume as coisas em termos muito pessoais, culpa o autor da afronta pelo
modo como se sente e relata uma história sobre a mágoa. A mágoa significa que um espaço muito grande está alugado na mente para
o sofrimento e a raiva. Em capítulo anterior, defini o perdão como a
sensação de paz de espírito que emerge quando a pessoa: a) assume um sofrimento
em termos menos pessoais; b) assume a responsabilidade por como se sente; c) na
história que relata, torna-se o herói em vez da vítima.
Insisto para que você tenha em mente
essa definição sobre o perdão. Antes de tudo, é uma definição prática. Seu
objetivo é sentir-se cheio de paz. A sensação de paz de espírito chega quando
você se cura das suas mágoas – culpando menos, assumindo a responsabilidade por
como se sente e mudando a história que você relata. Chamo de perdão essa paz de
espírito. À medida que sente mais paz,
você está progredindo no seu objetivo de curar-se das suas mágoas. Você está
aprendendo a perdoar.
Na minha definição de perdão, há três
elementos. O elemento mais crítico refere-se à história que se conta. Ao contar uma história sobre vitimização,
você já assume algo em termos muito pessoais e culpa o autor da afronta por
como se sente. Ao relatar a história sobre a heróica superação de uma
injustiça, você naturalmente culpará menos e assumirá as coisas em termos menos
pessoais. Porém, é muito difícil mudar uma história bem ensaiada sobre a mágoa.
Para evitar esse problema, sugiro que você comece assumindo a responsabilidade
por como se sente. Precisamos lembrar que somos responsáveis por nossa
experiência emocional. O passado não é responsável pelos sentimentos do
presente. Só porque algo desagradável ocorreu no passado ou pode ocorrer no
futuro não significa que devemos estragar o dia-a-dia. Nós nos tornamos
impotentes quando damos à pessoa que nos fez sofrer um poder excessivo sobre
como nos sentimos. Nossos sentimentos dolorosos diminuirão somente quando
recuperarmos o poder e mostrarmos que somos responsáveis por como nos sentimos.
Ensino duas
técnicas complementares para ajudar-nos a recuperar a responsabilidade por
como nos sentimos. A primeira técnica é
fácil de praticar e utilizável por todos; envolve não perder de vista as boas
coisas da nossa vida. Isso parece simples, mas
exige algum esforço. Significa o seguinte: gastamos tempo e energia para encontrar a beleza e o amor na nossa vida
para contrabalançar o tempo que gastamos nos ressentimentos, mágoas e feridas.
A segunda técnica envolve a prática da PERT (Positive Emotion Refocusing
Technique) – Técnica de Recolocar em Foco a Emoção Positiva, para reduzir
imediatamente nossa angústia quando nos sentimos perturbados, magoados ou
irados. A PERT é uma técnica simples e funcionará sempre que você sentir-se
perturbado. No final deste capítulo, discutirei essa técnica. Neste instante,
quero falar a respeito da primeira
técnica: a descoberta do positivo na sua vida.
Ambos os componentes são importantes para
você assumir a responsabilidade por como se sente. Ambos fazem você sentir-se
melhor e reduzem o poder das feridas que estragam seus dias, semanas e meses.
Lembre-se: assumir a responsabilidade por como se sente não significa que tenha
de gostar do que aconteceu. Responsabilidade
significa apenas que você é a única pessoa no controle das suas reações
emocionais e comportamentais. O perdão não é um foco sobre o que aconteceu no
passado e tampouco envolve permanecer perturbado ou agarrado a ressentimentos. Você
pode Ter sido ferido no passado, mas sente-se transtornado hoje. Tanto o perdão quanto as mágoas são
experiências que você possui no presente.
Desejo esclarecer que o fato de assumir a
responsabilidade por como você se sente não significa que o que aconteceu é sua
culpa. Você não motivou seus pais a fazê-lo sofrer, ou seu par amoroso a
enganá-lo. Embora não motive, você é o
responsável por seus pensamentos, comportamentos e sentimentos desde a
ocorrência dessas experiências. É sua vida, essas são as reações e emoções com
que você tem de lidar.
MUDANDO DE CANAL
NO SEU CONTROLE REMOTO
Antes de tudo, assumir a responsabilidade
significa que, mesmo magoado, você continua a se esforçar para apreciar o lado
bom da sua vida. Desafio a tendência de afirmar que uma experiência dolorosa é
mais profunda que o arrebatamento provocado pela beleza de um por-do-sol ou que
o amor que sentimos pelos nossos filhos.
A
maioria está alugando mais espaço para repisar mágoas do que para enfocar a
gratidão, o amor ou a apreciação da natureza. Minha mensagem básica aqui é
a seguinte: quando você traz uma
experiência mais positiva para sua vida, suas feridas diminuem de importância. De
fato, essa é a primeira etapa para assumir a responsabilidade por como você se
sente, e começar a perdoar. Se eu alugar cada vez mais espaço na mente para
apreciar meus filhos ou os encantos de um dia chuvoso, haverá, como
conseqüência, menos espaço e tempo para enfatizar o sofrimento.
Para ajudá-lo a entender essa idéia,
quero partilhar uma metáfora. Imagine que o que você vê em sua mente está sendo
visto numa tela de tevê. Imagine que o que você vê e ouve chegue como um
programa de televisão. Em casa, você muda os canais da sua tevê com o controle
remoto. Escolhe os programas que quer ver. Quando quer assistir um filme de
horror, sintoniza o canal 6. Para ver uma história de amor, você assiste ao
canal 14. Para apreciar um canal com programas sobre a natureza, você tem de
por no canal 51. Pelo seu controle remoto, você determina o que se apresenta na
sua televisão.
Imagine agora que cada um tenha um controle
remoto para mudar o canal que está vendo na mente. Imagine se as imagens em sua
mente pudessem ser mudadas do mesmo modo que você muda o canal da sua tevê.
Desse ponto de vista, a mágoa pode ser vista como um controle remoto travado no
canal da mágoa. Para alguns, isso significa reprisar continuamente o show Tenho pais odiosos. Para outros, há
episódios eternos do programa Chefes torpes,
podres e falsos.
Meu desafio é ensiná-lo a reprogramar
seu controle remoto. Quero que você programe seu controle para sintonizar
regularmente os canais da gratidão, beleza, amor e perdão. Apenas porque o
marido de Angélica usou drogas, a enganou e depois a abandonou, não significa
que os canais de gratidão e beleza de Angélica não devam mais ser usados.
Sempre há um belo pôr-do-sol para ver ou uma notícia no jornal sobre um ato
heróico de generosidade para ler. Naquele momento ruim da sua vida, Angélica
precisava sintonizar esses canais desesperadamente. Ela passou a sofrer mais ao
bloquear seu controle remoto no canal da mágoa.
Com freqüência, as pessoas consideram
que sintonizar os canais do perdão, gratidão, beleza e amor é mais fácil de ser
dito do que feito. Seu controle remoto pode estar travado. Se você não puder
achar nada para ver no seu canal de beleza ou amor, poderá buscar outras
pessoas que possuam televisores com boa recepção. Se você sofreu no amor, não
perca a alegria quando outras pessoas se apaixonam. Se você não tiver um par
amoroso, mas tiver um gato, ponha o gato no seu canal do amor. Sempre há uma
maneira para que a voz de uma criancinha traga um sorriso. Nunca há um momento em que não possamos agradecer às dádivas da vida.
Cada respiração é uma dádiva preciosa.
Você pode sintonizar na sua tela mental
uma belíssima paisagem da natureza. Ao visualizá-la, vai ser difícil continuar
de mau humor. É apenas um botão situado no outro lado do controle remoto. Você
não tem de se levantar da sua cadeira reclinável. O que assiste na sua tevê mental é uma opção.
O mundo está repleto de coisas para se
apreciar e considerar belas. O desafio é
ensinar a si mesmo como olhar. Os canais do perdão e da gratidão lembram que,
mesmo que tenha sofrido, não se deve focar a atenção neste sofrimento. Em todos
os momentos, os canais do amor e da beleza lembram que há a opção de se
determinar o que ver, escutar e sentir.
A
única coisa que ninguém tira de nós é em que concentramos a atenção. Em outras palavras; o controle remoto é só
nosso. Se virou um hábito sintonizar no canal da mágoa, lembre-se que qualquer
hábito pode ser quebrado. O mundo está cheio de heróis que superaram
dificuldades sintonizando os canais da coragem ou valentia. Cada um pode se tornar
um herói; assim, outras pessoas se beneficiarão ao assistir sua vida em suas
tevês.
Depois
que sintoniza os canais da gratidão, do amor, da beleza ou do perdão, você dá
ao seu organismo um descanso. Quando está concentrado nos seus problemas e suas
mágoas, seu organismo está sob estresse. Suas substâncias químicas
associadas ao estresse estão ativas e você sente-se cansado e abatido. Você
culpa o autor da afronta por sua angústia e sente-se incapaz. Desse modo, de
fato, você pode restaurar alguns dos danos provocados por sua reação relativa
ao estresse.
Para aqueles cujos controles remotos
estão um pouco enferrujados, ofereço algumas sugestões de como melhorar a
recepção dos canais da gratidão, amor, beleza e perdão. Todas as sugestões
foram postas em prática e mostraram-se úteis.
CANAL
DA GRATIDÃO
·
Vá ao
supermercado mais próximo e agradeça pela fartura de comida disponível.
·
Vá até
uma casa de saúde ou hospital e agradeça por sua saúde.
·
Ao
dirigir, agradeça mentalmente cada motorista que respeita as regras de
trânsito.
·
Se
você tiver uma cara-metade, agradeça essa pessoa por gostar de você. Tenha o
cuidado de fazer isso todos os dias.
·
Lembre-se
de cada gesto amável dos seus pais.
·
Dirija-se
a uma balconista numa loja e agradeça pelo atendimento.
·
Em sua
casa, agradeça a todo o trabalho envolvido na fabricação dos seus móveis e
utensílios e na preparação de seus alimentos.
·
Cada
manhã, ao acordar, agradeça à vida e à dádiva da existência.
CANAL
DA BELEZA
·
Ao
ficar preso em um congestionamento, repare na beleza do céu ou no movimento dos
pássaros ou nuvens.
·
Pare
no pátio da escola e observe as encantadoras brincadeiras das criancinhas.
·
Descubra
seu local predileto na natureza, onde possa chegar com facilidade. Lembre-se da
aparência do local e de como você se sentiu bem ali.
·
Assista
programas sobre a natureza na tevê.
·
Aprecie
muito suas músicas favoritas.
·
Caminhe
lentamente e absorva os cheiros e panoramas da natureza.
·
Perceba
como um prato bem elaborado parece belo e saboroso.
·
Observe
a beleza e portento das flores, em particular a grande quantidade de cores.
·
Perceba
como são atraentes as pessoas de que você gosta.
·
Vá ao
jardim zoológico e maravilhe-se com a variedade de animais.
·
Pressinta
a beleza da Chapada Diamantina.
CANAL
DO PERDÃO
·
Procure
pessoas que perdoaram os outros e peça para que elas contem suas histórias.
·
Lembre-se
de quando perdoou, não se esqueça de que você é capaz de fazer isso.
·
Leia
livros sobre pessoas que perdoaram situações danosas.
·
Consulte
se não há histórias de perdão em sua família.
·
Pratique
o perdão em relação às mínimas afrontas contra você.
·
Pratique
o perdão por um minuto de cada vez.
·
Perdoe
o motorista que o fechou no trânsito.
·
Pense
nas vezes que você fez os outros sofrerem e precisou de perdão.
·
Depois
de fazer alguém sofrer, repare todas as vezes que essa pessoa é simpática com
você.
·
Perceba
como você muitas vezes perdoa aqueles que gosta.
CANAL
DO AMOR
·
Procure
as pessoas apaixonadas e sorria diante da felicidade delas.
·
Vá a
um hospital e observe o amor que a família devota ao familiar que está doente.
·
Lembre-se
dos momentos em sua vida em que era amado.
·
Lembre-se
dos momentos em sua vida em que estava amando.
·
Telefone
para um amigo e diga que gosta dele.
·
Lembre-se
dos gestos de gentileza dos seus pais.
·
Pergunte-se
como pode se tornar uma pessoa mais amorosa.
·
Pergunte
a uma pessoa sobre quando ela se sentiu realmente amada.
Além
dos meios acima mencionados para sintonizar as emoções positivas, os dois
exercícios a seguir ajudarão a manter a ferrugem longe de seu controle remoto.
Esses dois exercícios apresentam melhor resultado quando praticados com
freqüência. Você precisará lembrar de praticá-los até desenvolver o hábito de
encontrar a beleza e a gratidão naturalmente.
RESPIRAÇÃO
DE AGRADECIMENTO
1. Duas ou três vezes por dia, quando não
estiver muito ocupado, diminua o ritmo da sua atividade e preste atenção em sua
respiração.
2. Repare que você inspira e expira sem ter de
fazer nada. Preste atenção no seu abdome
e, ao inspirar, deixe que o ar empurre seu abdome para fora com suavidade. Ao
expirar, relaxe com consciência seu abdome, para que ele amoleça.
3. Continue respirando lenta e profundamente,
repetindo o ato de três a cinco vezes.
4. Depois, em cada uma das cinco a oito
próximas inspirações, diga a palavra obrigado para lembrar da dádiva da
existência e de como você é feliz por estar vivo. Muitas vezes, a pessoa sente
uma forte reação quando imagina a experiência de gratidão centrada no coração.
5. Após essas cinco a oito respirações de
agradecimento, expire, deixando o abdome macio, e respire uma ou duas vezes.
6. A seguir, recomece sua atividade regular.
Pratique
o exercício relativo ao “Foco no Coração”, no mínimo, três vezes por semana.
FOCO
NO CORAÇÃO
1. Adote uma posição confortável, que possa
manter por dez a quinze minutos.
2. Comece a prestar atenção na sua inspiração
e expiração. Ao inspirar, deixe que o ar empurre seu abdome para fora com
suavidade. Ao expirar, relaxe com consciência seu abdome, para que ele amoleça.
Por cerca de cinco minutos, concentre sua atenção nesse ato.
3. A seguir, traga à sua mente a lembrança da
experiência com uma pessoa que você amou demais, ou de uma cena da natureza que
lhe impressionou pela beleza e lhe trouxe tranqüilidade. Não escolha para esse
exercício alguém que você está tentando perdoar.
4. Quando a imagem dessa experiência estiver
clara em sua mente, tente reviver, no momento presente, os sentimentos
associados de paz e amor. Muitas pessoas gostam de imaginar que seus bons
sentimentos estão concentrados nos seus corações.
5. Conserve esse sentimento de paz o máximo
possível. Se você achar que está perdendo a concentração, volte para a etapa 1,
e à subida e descida não forçada do seu abdome.
6. Depois de dez a quinze minutos, abra
lentamente seus olhos e recomece suas atividades regulares.
O
PERDÃO: A PRÁTICA
Helena era uma mulher atraente, com
cerca de 35 anos, que vivia sozinha. A maioria das vezes, no meu workshop, ela
permanecia sentada e calada, apenas escutando; no entanto, muitas vezes vi
lágrimas nos cantos dos seus olhos. Helena disse que nunca poderia perdoar sua
irmã, pois ela havia partido seu coração.
Helena e sua irmã sempre foram muito
competitivas. Joana era dois anos mais velha, e Helena lembra-se de Ter levado
a pior todas as vezes. Helena relatou que, durante a infância, Joana fora a
favorita dos pais. Recentemente, Helena e Joana gostaram do mesmo homem. Helena
conheceu Ricardo e o apresentou para Joana. Em poucas semanas, Ricardo e Joana
estavam morando juntos. Helena ficou arrasada; sentiu-se traída e nada
atraente. Os pais pediram para ela tocar a vida, já que Joana e Ricardo estavam
apaixonados. Perguntaram por que ela não queria que sua irmã fosse feliz.
Helena sentia-se infeliz, pois quase
qualquer coisa detonava a lembrança da sua perda. Ela também sentia-se irada, e
dizia que sua irmã era vil e infame a qualquer um ao alcance da sua voz. Certo
dia, perguntei a Helena porque ela se sentia perturbada se sua irmã não estava
presente. Ela olhou para mim como se eu fosse louco. Afirmei: “Helena, não vejo
ninguém ou nada nessa sala para que alguém se perturbe. Apesar disso, vejo que
você se sente perturbada. Por quê?” Perguntei em voz alta se Helena tinha
criado o hábito de sentir-se perturbada. Disse-lhe que era possível que ela
tivesse se acostumado a sentir essas emoções negativas.
Assegurei que isso era comum quando
ficávamos magoados. Muitas vezes, permanecíamos paralisados no hábito de
relembrar repetidas vezes a traição e os maus-tratos. Recordei a Helena que ela
era a proprietária que alugava o espaço em sua mente. Fui ao quadro-negro e
mostrei a Helena que sua irmã era um avião que ela estava mantendo no ar mais
tempo do que o necessário antes de pousar.
O perdão envolve a prática de estender os
momentos de serenidade, inclui a decisão a respeito do que é apresentado na sua
tela de tevê. O perdão é o poder que se adquire ao se entender que uma
injustiça do passado não tem de causar sofrimento hoje em dia. Quando
vivemos boas experiências, como certos momentos de beleza e amor, podemos
perdoar aqueles que nos fizeram sofrer. O
perdão é a opção de estender esses momentos para o resto da nossa vida. Ele
está disponível a qualquer tempo. Está inteiramente sob seu controle. Não se
baseia na ação de outras pessoas; é uma decisão que você pode tomar sozinho.
Lembrei a Helena que sua meta era aprender
como sentir-se bem com mais freqüência durante seu dia. Durante aqueles minutos em que Helena visualizava uma cena de beleza,
sua irmã não poderia fazê-la sofrer. Como a ação dolorosa ocorrera no passado,
o único modo de Joana voltar a fazê-la sofrer era quando Helena se concentrava
no episódio da traição. Para Helena, o fato crítico era controlar sua mente
e, em conseqüência, suas emoções.
Helena aprendeu que o modo como ela se
sentia estava diretamente relacionado ao que passava na sua tevê. Como Helena
dava uma grande atenção à sua irmã, sentia-se subjugada pela dor. Quando
perdoava a irmã, sentia-se bem ou serena. Pedi para ela imaginar que seu
objetivo era estender esses momentos de paz. Disse a Helena que apenas ela tinha o poder de determinar quantos
momentos de paz sentia.
PERT
Ao assumirmos a responsabilidade por
como nos sentimos, a primeira etapa inclui lembrar que devemos procurar pelo
bom e belo da vida. Aprendemos três etapas para esse processo. Em primeiro
lugar, temos de desempoeirar o controle remoto, para vermos o que está passando
nos canais da beleza, da gratidão, do amor e do perdão. Em segundo, devemos
praticar a “Respiração de Agradecimento” algumas vezes por dia. Essa respiração
nos ajudará a relaxar, e nos lembrará que a dádiva mais importante que podemos
não estar apreciando plenamente é a própria vida. Em terceiro, precisamos
reservar cerca de uma hora por semana para a prática da técnica do “Foco no
Coração”. Essa técnica permite desenvolver uma respiração lenta e profunda,
ajuda a relaxar e ensina a assumir os bons sentimentos e trazê-los ao presente.
Essas três etapas possibilitam que nos
concentremos outra vez nos momentos positivos e impedidores dos sofrimentos ou
transtornos prolongados. Esse processo não é idealizado para ser usado quando
uma lembrança dolorosa ou o ato de rever alguém faz com que a pessoa se sinta
significativamente perturbada. Nesse caso, é necessário uma técnica diferente.
A técnica PERT é capaz de ajudar no momento que uma experiência dolorosa
aparece na tela da TV.
PERT: Técnica de recolocar em toco a
emoção positiva (Positive Emotion Refocusing Technique)
Precisamos
aprender como manter a serenidade em qualquer situação, independente de quão
perturbadora ela seja. Adquirimos muita confiança quando, subitamente,
diante de uma situação ou lembrança dolorosa, somos capazes de manter o foco
positivo. A prática da técnica PERT ajuda a manter a calma, permitindo a tomada
de boas decisões.
A prática da técnica PERT diante de um
chefe furioso impede que a raiva e o sofrimento o subjuguem. Em uma via
expressa congestionada, a técnica impede que a aflição piore a situação. Antes
de realizar uma visita a um parente que não gosta, a sua prática permite que
você decida se a visita vale a pena. Enquanto se lembra do seu pai alcoólatra,
a sua prática impede que você se desespere.
Helena praticou a técnica PERT e,
lentamente, sua irmã passou a representar uma ameaça menor. Essa técnica é útil
em qualquer situação em que você sente raiva, sofrimento, depressão ou
amargura. Ela é praticada por alguns alunos meus quando lembram como um
ex-cônjuge, pai ou mãe os maltratou. É praticada por alguns alunos meus quando
acham que estão ficando transtornados por causa de um conflito conjugal. Quando
você pratica a técnica PERT e mantém a calma, percebe como a mágoa começa a
reduzir sua influência sobre você.
A prática da técnica PERT leva cerca de
45 segundos, podendo ser realizada a qualquer momento e em qualquer lugar.
Ninguém fica sabendo que você está praticando. Pode praticar numa discussão,
para manter a calma, ou enquanto sua namorada lhe diz bye-bye. Você pode
praticar quando precisa ser agressivo e fica preocupado com a reação do autor
da afronta. A PERT é a técnica mais poderosa que conheço para ajudar a manter o
controle das emoções. Ao praticá-la, a pessoa que o fez sofrer torna-se menos
ameaçadora. Você resgata o poder dela de fazê-lo sofrer e o substitui por uma
maior autoconfiança e tranqüilidade.
A
PRÁTICA DA TÉCNICA PERT
Ao sentir os efeitos de uma mágoa não
resolvida ou de um problema de um relacionamento:
1. Preste toda a atenção possível no seu
abdome enquanto inspira e expira duas vezes lenta e profundamente. Ao inspirar,
deixe que o ar empurre seu abdome para fora com suavidade. Ao expirar, relaxe
com consciência seu abdome, para que ele amoleça.
2. Na terceira inspiração completa e profunda,
traga à sua mente a imagem de alguém que você ama, ou de uma bela cena da
natureza, que lhe causa admiração e espanto. Muitas vezes, a pessoa sente uma
forte reação quando imagina que seus bons sentimentos estão concentrados na
área em torno do coração.
3. Enquanto pratica, continue expirando,
deixando a barriga macia.
4. Pergunte a sua parte relaxada e serena o
que você pode fazer para solucionar sua dificuldade.
Quando
conheci Helena, ela se sentia bem apenas quando tramava uma vingança contra sua
irmã ou enquanto se distraía. Ela era um destroço nervoso, que assistia a
vários filmes todas as noites e procurava manter-se sempre ocupada. Nunca
refletia a respeito de não Ter controle sobre como se sentia. Seu namorado a
jogou fora e a trocou por sua irmã. Ela ficou transtornada com isso; na sua
mente, esse desfecho era inevitável. Helena nunca percebeu que, dedicando mais
de duas horas do dia para lamentar sua perda, iria sentir-se mal continuamente.
Juntando isso ao fato de não preencher quase nenhum momento do seu dia com um
gesto de gratidão, era inevitável que Helena permanecesse infeliz.
Disse
para Helena que a técnica PERT era mais barata do que duas bolas de sorvete por
dia. Em seu desespero, praticou a técnica fielmente todos os dias.
Inicialmente, não sentiu nada, exceto o sofrimento habitual. Disse-lhe que a
tarefa crucial era manter a atenção no abdome e não na aflição. Com o tempo, o
sentimento positivo surgiria.
Helena
praticou todos os dias, durante duas semanas. No final desse período, era capaz
de pensar na sua irmã sem reagir como uma marionete sob seu domínio. Mediante a
prática da técnica PERT, Helena ganhou controle sobre seus sentimentos e sentiu-se
mais confiante. Quando isso aconteceu, começou a pensar a respeito do que
queria para sua vida. Ela começou a perguntar-se por que estava dedicando tanto
tempo à vida de Joana. Entendeu que estava alugando um espaço muito grande em
sua mente para Joana. Helena também compreendeu que, se Ricardo a deixara com
tanta facilidade, sem relacionamento com ele nunca teria dado certo.
Helena não tinha compreendido nada
disso nos meses em que sempre se sentia perturbada quando Joana lhe vinha à
mente. A prática das técnicas PERT, “Foco no Coração”, Respiração de
Agradecimento” e a sintonia no canal da beleza deram a Helena uma segunda
oportunidade. Até aprender a perdoar,
Helena só tinha dado ouvidos às suas partes iradas e magoadas. Depois de
praticar essas técnicas, também sintonizou suas partes amorosas e serenas. A
descoberta dessas partes, que nunca tinham desaparecido, mas que somente não
estavam sintonizadas, devolveu à Helena sua vida. Tenho plena certeza que essa
descoberta também lhe devolverá à sua vida.
Diversas pessoas encontram alívio por meio da
prática exclusiva da técnica PERT. Elas
percebem que o foco sobre a mágoa causa mais sofrimento do que o próprio autor
da afronta. Pela prática das técnicas PERT, “Foco no Coração” e “Respiração
de Agradecimento”, elas conservam o poder sobre suas emoções. A técnica PERT
combinada com o “Foco no Coração” e a retirada do pó dos canais da beleza e do
amor são ferramentas poderosas.
Não pretendo que a técnica PERT seja
uma prática autônoma, mas freqüentemente é suficiente. Porém, meus métodos para
o perdão trabalham como o ato de descascar uma cebola. Descascar uma cebola
leva tempo, e há muitas camadas. A primeira coisa nesse processo envolve
procurar a beleza e o amor com a mesma determinação que as mágoas e sofrimentos
vêm à mente. A Segunda coisa inclui praticas as técnicas “Foco no Coração” e
“Respiração de Agradecimento”. A terceira abrange a prática da técnica PERT.
O que lhe peço é para começar a prática
diária das técnicas aqui apresentadas. Torne-se um cientista. Utilize sua vida
como um experimento e veja como você vai se sentir melhor.
(Resumo extraído
do livro “O Poder do Perdão”, de Fred Luskin, São Paulo, Ed. Novo Paradigma,
2002 por José Ramos Coelho.)
Adorei seu resumo, muito agradecida !
ResponderExcluirGratidão pelo comentário. Disponha. Abraços
ExcluirMuito bom! Gratidão, José.
ResponderExcluirDisponha. Abraços
ExcluirGratidão pelo resumo! Vai ajudar muitas pessoas a praticarem o perdão em suas vidas!
ResponderExcluirPode divulgar à vontade. O que é bom a gente passa adiante. Abraços
Excluir